legado franciscano de humildade e defesa dos vulneráveis

Para frei Aluísio Alves Pereira Junior, o legado do Papa Francisco é um marco não apenas para a Igreja Católica, mas para toda a sociedade. Em entrevista ao Campo Grande News, ele destacou a importância da escolha do nome Francisco pelo cardeal Jorge Bergoglio ao assumir o papado em 2013, ligando diretamente essa decisão à vida e aos valores de São Francisco de Assis.

Entre tantos momentos marcantes do pontificado de Francisco, frei Aluísio destaca a oração feita em plena Praça de São Pedro, em Roma, durante a pandemia de covid-19, em 2020. A cena do papa sozinho sob a chuva, diante de uma praça vazia, correu o mundo.

“Parecia um gesto solitário, mas ele estava unido à humanidade inteira naquele momento. Foi muito forte. Aquilo mexeu com muita gente. Foi um chamado ao cuidado com a vida, com aquilo que é dom de Deus e que precisa ser preservado”, destacou.

Segundo ele, essa postura do papa inspirou transformações dentro e fora da Igreja. “Esse jeito não agradou a todos. Há setores que não dão importância para o cuidado da criação, que não veem isso como algo religioso. Mas o Papa sempre foi muito humano, e essa humanidade o levou a levantar a voz em defesa do planeta”, pontua.

“Ele já tinha esse jeito de agir. Os documentos que escreveu sobre a criação e sobre a Terra como casa comum mostram o cuidado com os pobres, com os excluídos e com as minorias. Isso tem tudo a ver com o modo de ser de São Francisco”, afirma o frei.

Frei Aluísio lembra que Francisco levou esse debate para o mundo todo, especialmente por meio da encíclica Laudato Si’, sobre a ecologia integral, além das falas em viagens e encontros internacionais. “Os alertas que ele fez sobre o cuidado com o planeta são essenciais. Os cientistas dizem isso, e os sensatos também: se não cuidarmos, vamos destruir o mundo. E Deus não criou o mundo para que fosse destruído”, explicou.

A fala do religioso resgata o princípio bíblico da Criação. “A Bíblia diz que Deus colocou o homem e a mulher para cuidar do jardim. Cuidar, e não destruir. Somos irmãos da criação, não inimigos dela”, disse.

O frei lembra que a figura do papa Francisco ajudou até mesmo os próprios franciscanos a retomarem valores esquecidos. “Alguém comentou uma vez que ele era a melhor propaganda viva do franciscanismo. Ele chamou atenção para aspectos da espiritualidade franciscana que nem todos estavam dando o devido valor”, explica.

Para ele, isso fortaleceu o sentimento de fraternidade, um dos pilares da vida de São Francisco. “O pontificado dele contribuiu para que a vida em fraternidade, como irmãos e irmãs, fosse mais vivida no dia a dia”, destacou.

Além disso, o papa atraiu um público que estava distante da Igreja — especialmente os jovens. “A juventude se reaproximou porque via nele uma liderança preocupada com os problemas do mundo. Ele falava com verdade sobre as dores da sociedade atual”, destaca o frei.

O mundo se despede nesta segunda-feira (21) do Papa Francisco, ou Jorge Mario Bergoglio, primeiro líder latino-americano da Igreja Católica. O adeus aconteceu aos 88 anos. O pontífice ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos e ficou marcado pela humildade e defesa dos mais vulneráveis. Francisco ficou internado por cerca de 40 dias com um quadro de bronquite.

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