A vida deixa rastros. Desde os mais ínfimos microrganismos até vastas civilizações, qualquer forma de vida interage com o ambiente ao seu redor, alterando sua composição química, transformando paisagens e imprimindo marcas que podem ser detectadas mesmo a grandes distâncias.
No campo da astrobiologia, esses rastros são chamados de bioassinaturas: evidências indiretas da presença de vida, sejam elas químicas, físicas ou biológicas.
A busca por bioassinaturas não é apenas uma questão de curiosidade científica, mas um esforço para responder a uma das perguntas mais antigas da humanidade: estamos sozinhos no universo? Embora a procura por sinais de vida fora da Terra ocorra há centena de anos, seus contornos científicos só vieram a partir do desenvolvimento da astrobiologia no século XX.
Desde a formulação da equação de Drake, que tenta estimar a quantidade de civilizações comunicativas na Via Láctea, até as missões modernas que analisam atmosferas de exoplanetas, o estudo de bioassinaturas evoluiu de especulação filosófica para uma investigação empírica.

A exploração espacial desempenhou um papel crucial nesse avanço. Durante as missões Viking da NASA, na década de 1970, experimentos foram realizados na superfície de Marte para detectar sinais de metabolismo microbiano.
Os resultados foram inconclusivos, mas abriram caminho para novas abordagens. Hoje, instrumentos sofisticados em telescópios espaciais como o James Webb analisam a composição química de exoplanetas em busca de possíveis indicadores biológicos.
Conheça as principais categorias de Bioassinaturas
Bioassinaturas Químicas
São substâncias cuja presença pode indicar atividade biológica. O oxigênio molecular (O2) na atmosfera da Terra, por exemplo, é um subproduto da fotossíntese realizada por plantas e microrganismos.
Outros exemplos incluem metano (CH4), que pode ser produzido por processos biológicos ou geológicos, e ozônio (O3), que se forma a partir da interação do oxigênio com a radiação ultravioleta.
Bioassinaturas Morfológicas
São estruturas físicas deixadas por organismos vivos, como fósseis ou padrões de erosão causados por microrganismos. Na Terra, estromatólitos – formações rochosas criadas por colônias de cianobactérias – são um exemplo clássico de bioassinatura morfológica.

Bioassinaturas Espectroscópicas
Envolvem a detecção de substâncias em atmosferas planetárias através da absorção de certos comprimentos de onda da luz. Telescópios modernos utilizam espectroscopia para analisar a composição química de exoplanetas e identificar possíveis assinaturas biológicas em suas atmosferas.
A importância do estudo das Bioassinaturas
Dentro do Sistema Solar, Marte continua sendo um dos principais alvos da busca por bioassinaturas. O rover Perseverance, da NASA, está atualmente coletando amostras que podem conter vestígios de vida microbiana antiga.
Além disso, luas como Europa (de Júpiter) e Encélado (de Saturno) possuem oceanos subterrâneos sob suas crostas geladas, onde processos químicos poderiam sustentar formas de vida.

Fora do Sistema Solar, exoplanetas em zonas habitáveis são os principais alvos. A descoberta de mundos semelhantes à Terra orbitando estrelas próximas tem gerado um crescente entusiasmo na comunidade científica. A detecção de compostos como oxigênio, metano e dióxido de carbono em suas atmosferas poderia indicar processos biológicos em andamento.
Embora a detecção de bioassinaturas seja um objetivo promissor, há desafios significativos. Muitos compostos que podem ser produzidos por organismos vivos também têm origens abióticas. O metano, por exemplo, pode ser gerado por vulcanismo e processos geotérmicos. O oxigênio pode ser criado pela fotodissociação da água sob radiação estelar intensa.
“Por isso, os cientistas precisam avaliar cuidadosamente os contextos em que essas substâncias são encontradas.”
Uma bioassinatura robusta deve estar associada a um conjunto de evidências complementares que reduzam a probabilidade de falsos positivos. Além disso, é essencial considerar a química específica do planeta e sua estrela hospedeira.

Com a chegada de telescópios cada vez mais poderosos, como o Telescópio Espacial James Webb e a próxima geração de observatórios terrestres, como o Extremely Large Telescope (ELT), a busca por bioassinaturas entrará em uma nova era.
Essas ferramentas permitirão análises mais detalhadas das atmosferas exoplanetárias, aumentando nossas chances de detectar sinais de vida. Além disso, missões futuras, como Europa Clipper e Dragonfly (destinada a Titã, lua de Saturno), podem revelar segredos sobre a habitabilidade desses mundos.
A astrobiologia está avançando rapidamente, e a cada descoberta, nos aproximamos mais da resposta para um dos maiores mistérios da ciência. Se há vida além da Terra, é possível que ela já tenha deixado sua marca. Cabe à ciência desenvolver os meios para reconhecê-la e compreender seu significado dentro do vasto contexto cósmico.
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