Não houve “lua de mel” política quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, assumiu o poder em julho do ano passado. O líder do Partido Trabalhista herdou as insatisfações da população com o governo rival, do conservador Rishi Sunak, com a economia, a inflação, as longas filas no NHS (o “SUS britânico”) e as insistentes chegadas de imigrantes irregulares, e por isso tornou-se dono do recorde para o pior índice de aprovação de um premiê no fim do ano passado.
Até chegar Donald Trump.
Embora tenham potencial caótico para o mundo, os métodos do presidente dos Estados Unidos — aposta em tarifaços, guerra comercial, postura imperialista com ameaças de tomar territórios, insultos duros a aliados tradicionais — parecem produzir efeito positivo para líderes que os navegam com habilidade e fazem frente a Trump na medida certa. Se os eleitores britânicos ficaram enfurecidos com o chefe da Casa Branca, o sentimento agora se traduz em apoio a Starmer.
O austero ex-advogado tem sido cuidadoso ao ficar perto de Trump. Ele não retaliou as tarifas americanas. Mas defendeu o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ruidosamente depois que Trump retirou o apoio dos Estados Unidos a Kiev. Como resultado, a popularidade do primeiro-ministro aumentou mais de dez pontos percentuais (embora de um ponto assustadoramente baixo). Antes, apenas 27% do público estava satisfeito com o desempenho de Starmer, a classificação mais baixa registrada pela Ipsos na marca de cinco meses. (Para sermos justos, alguns não duram tanto — em 2022, Liz Truss foi forçada a renunciar ao cargo após apenas 49 dias.)
Além disso, os eleitores britânicos agora acreditam que o Partido Trabalhista é mais hábil em lidar com política externa e desafios na área de defesa do que o Partido Conservador, uma reversão da tendência anteriormente predominante. Cerca de 30% dos eleitores disseram que preferem os trabalhistas quando se trata de “lidar com aliados contra ameaças ao Reino Unido”, em comparação com 18% que favorecem os conservadores. Sobre “alocar financiamento para as forças armadas e defesa”, 27% apontam que o Partido Trabalhista faz isso melhor, contra 20% para os rivais.
Ele não é o único a se beneficiar do “efeito Trump” no ambiente doméstico. O canadense Partido Liberal, atualmente no governo, estava pronto para uma derrota nas próximas eleições após uma crise grande derrubar o antigo premiê, Justin Trudeau. Mas nas últimas semanas, em meio a tarifas e ameaças sobre o Canadá se tornar o 51º estado americano, a legenda subiu nas pesquisas de opinião em pelo menos dez pontos. Na corrida para o cargo de primeiro-ministro, seu líder, Mark Carney, aparece empatado ou à frente do rival.
No México, a presidente Claudia Sheinbaum, líder esquerdista do país, viu seu apoio aumentar para impressionantes 80% enquanto negociava concessões nas tarifas com Trump. Dezenas de milhares se reuniram na Cidade do México fim de semana retrasado para comemorar seu sucesso em adiar as taxas.
Até Zelensky, que foi humilhado durante um desconfortável bate-boca com Trump e o vice-presidente americano, J.D. Vance, numa reunião na Casa Branca, sentiu o efeito. Na verdade, brigar com o republicano pode ter salvado seu emprego. À medida que a guerra na Ucrânia se arrasta, seus oponentes políticos viram uma oportunidade de destituí-lo, algo que a Rússia também deseja. Após sua viagem a Washington, seus índices de aprovação aumentaram em dez pontos, de acordo com duas pesquisas recentes, e até seus rivais declararam publicamente que agora não é hora de convocar eleições.
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