
Dizem que Lip-Bu Tan é a melhor esperança para consertar a Intel — se é que isso é possível.
A escolha de Tan como novo CEO da fabricante de chips foi aplaudida por analistas, banqueiros e acionistas. Ele tem duas décadas de experiência na indústria de semicondutores, relacionamentos em todo o setor, uma mentalidade de startup e uma obsessão por IA e basquete.
Além disso, vem com relações comerciais complicadas com a China, ressaltando a incapacidade do Vale do Silício de se separar de um dos principais adversários dos Estados Unidos.
Como Tan, de 65 anos, usará seus recursos para ressuscitar a Intel é algo em que pensam todos os observadores da indústria. A Intel deixou de ser uma das maiores inovadoras do Vale do Silício e se tornou uma relíquia, lutando para competir com a superestrela Nvidia e outras na era da inteligência artificial.
Suas ações perderam dois terços de seu valor em quatro curtos anos, ao ficar de fora do boom da IA, mas suas ações subiram mais de 14% no fechamento do mercado na quinta-feira com a notícia da chegada de Tan.
O novo CEO em breve terá que responder à pergunta mais urgente sobre o futuro da Intel: ele vai desmembrar os negócios de design e fabricação da empresa? A fabricação de chips é uma despesa enorme que a Intel não pode sustentar atualmente, dizem líderes e analistas da indústria. Ex-membros do conselho pediram essa separação.
Mas um acordo para vender toda ou parte da Intel para concorrentes parece estar fora de questão no futuro imediato, de acordo com banqueiros. Uma variedade de conversas em estágio inicial com a Broadcom, a Qualcomm,a GlobalFoundries e a TSMC nos últimos meses não deram em nada e até agora parece improvável que progridam.
A empresa já sugeriu uma opção mais provável: trazer financiadores externos, incluindo clientes que desejam uma participação no negócio de fabricação.
A sorte da Intel também está em parte com o presidente Trump, que sinalizou que quer desfazer a Lei de Chips, assinada pelo ex-presidente Joe Biden para investir mais de US$ 50 bilhões em semicondutores. A Intel receberia até cerca de US $ 8 bilhões por meio da legislação, dependendo do desenvolvimento de novas fábricas que enfrentaram atrasos.
Redefinindo a cultura da Intel
Tan provavelmente não tem mais de um ano para transformar a Intel, disseram pessoas próximas à empresa. Suas décadas de investimento em startups e administração de empresas — ele fundou uma empresa multinacional de capital de risco e foi CEO da Cadence Design Systems, que faz design de chips, por 13 anos — são indicações de como Tan enfrentará essa tarefa nos primeiros dias: cortando despesas, movendo-se rapidamente e tentando transformar a Intel novamente em uma empresa de engenharia.
“Nas áreas em que estamos atrás da concorrência, precisamos assumir riscos calculados para mudar e avançar”, disse Tan em nota aos funcionários da Intel na quarta-feira. “E em áreas onde nosso progresso tem sido mais lento do que o esperado, precisamos encontrar novas maneiras de acelerar o ritmo.”
A Intel não quis disponibilizar Tan para uma entrevista.
Muitos consideram que essa redefinição da cultura também significa grandes cortes na Intel, que já cortou cerca de 15 mil empregos no ano passado.
“Ele é corajoso o suficiente para ajustar a força de trabalho ao tamanho necessário para o negócio hoje”, disse Reed Hundt, ex-membro do conselho da Intel que conhece Tan desde a década de 1990.
A primeira passagem de Tan na Intel, como membro do conselho de 2022 a 2024, terminou em frustração, dizem pessoas próximas a ele. Embora ele tenha citado as demandas de tempo como motivo para a saída, os membros da empresa acreditavam que Tan estava farto da força de trabalho inchada e da direção do então CEO Pat Gelsinger. Seu retorno, então, sinaliza uma mudança inevitável na estratégia.
A despeito das capacidades de Tan, a Intel continua muito atrasada na produção moderna de chips, disse Mark Rosenblatt, fundador da Rationalwave Capital Partners. “E o balanço patrimonial da Intel não é suficiente para o custo exigido para alcançá-lo de forma sustentável e dimensionar a fabricação necessária para suportá-lo.”
Gestão de “Equipe Única”
A Cadence estava passando por uma turbulência semelhante à da Intel quando Tan assumiu em 2009. Ele conseguiu reorientar os negócios, levar seus serviços para a nuvem e conquistar novos clientes, incluindo a Apple. Uma empresa prestes a deixar de ser pública retornou mais de 3.000% no preço de suas ações durante o mandato de Tan.
Em palestras públicas, Tan contou como abordou a reformulação da cultura da Cadence para eliminar o que descreveu como silos. “Tentei mudar para uma cultura de equipe única”, disse Tan em uma entrevista de 2018 à Computer History Museum no Vale do Silício.

Essa abordagem se deve ao que ele chama de seu primeiro amor: o basquete. Nascido na Malásia e criado em Singapura, Tan queria ser jogador profissional de basquete, até que sua mãe lhe disse para “conseguir um emprego de verdade”, contou ele durante uma entrevista em vídeo em janeiro.
Tan, que declarou a chegada da IA generativa como maior do que a invenção da web, passou os últimos anos investindo em startups de IA em todo o mundo. Uma empresa israelense de IA que ele apoiou, a Habana Labs, foi vendida para a Intel por cerca de US$ 2 bilhões em 2019. Ele muitas vezes elogiou o potencial da IA para revolucionar o desenvolvimento de medicamentos, particularmente para o câncer.
A conexão com a China
Antes de ascender na indústria de semicondutores, Tan era conhecido como um dos primeiros capitalistas de risco do Vale do Silício a investir na Ásia. Ele é fundador e presidente da Walden International, prolífica investidora em startups de tecnologia chinesas.
Tan foi um grande defensor do setor de semicondutores da China em uma época em que as relações do país com os EUA eram consideravelmente mais otimistas, incluindo o coinvestimento com uma estatal chinesa gestora de ativos.
A Walden foi uma das primeiras investidoras da Semiconductor Manufacturing International, que o Departamento de Comércio colocou na lista negra por seus supostos laços com os militares chineses em 2020. A Walden vendeu sua última participação em 2021. Em 2023, o Comitê Seleto da Câmara sobre o Partido Comunista Chinês enviou uma carta a Tan mencionando “preocupação séria” sobre os investimentos da Walden na China, incluindo empresas que os EUA haviam colocado na lista negra. Um relatório subsequente do comitê destacou centenas de milhões de dólares em investimentos da Walden que foram para empresas chinesas envolvidas em atividades militares ou abusos dos direitos humanos.
À medida que a notícia do novo papel de Tan se espalhava, um meio de comunicação chinês publicou a seguinte manchete: “Intel contrata ‘o CEO com o melhor conhecimento da indústria de chips da China’.”
Escreva para Heather Somerville em [email protected], Lauren Thomas em [email protected] e Liza Lin em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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