O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, rejeitou as últimas ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a respeito da anexação da Groenlândia. O chanceler reiterou que a ilha no Ártico, um território dinamarquês semiautônomo, não poderia ser tomada por outro país.
“Se você olhar para o tratado da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a Carta da ONU ou a lei internacional, a Groenlândia não está disponível para anexação”, disse ele a repórteres.
Na quinta-feira 13, Trump afirmou que a anexação da Groenlândia pelos Estados Unidos acabaria acontecendo para promover “a segurança internacional”.
“Penso que vai acontecer. Precisamos dela (Groenlândia) para a segurança internacional”, disse Trump na Casa Branca, ao lado do secretário-geral da Otan, Mark Rutte. Anteriormente, em um discurso ao Congresso, o americano já havia dito que obteria a área “de um jeito ou de outro”.
Trump falou em comprar a ilha pela primeira vez em 2019, durante seu primeiro mandato na Casa Branca, e voltou à carga desde que foi eleito em novembro de 2024. Com dois milhões de quilômetros quadrados (80% dos quais cobertos de gelo), o território tem uma população de 56 mil habitantes.
Os Estados Unidos mantêm uma base militar no norte da Groenlândia, ao abrigo de um amplo acordo de defesa assinado em 1951 entre Copenhagen e Washington.
Cobiça dos EUA e mudanças climáticas
Uma pesquisa de opinião publicada recentemente indicou que 85% dos groenlandeses se opõem à proposta de Trump, e quase metade afirmaram que enxergam a empreitada do republicano como uma ameaça. A recente corrida eleitoral, da qual saiu vitorioso o partido pró-negócios Demokraatit, da oposição, foi dominada pelo tema da anexação e de uma possível independência da Dinamarca – a legenda, porém, favorece uma abordagem mais lenta do processo de divórcio.
Rica em recursos minerais inexplorados, a importância geopolítica da Groenlândia vem aumentando com as mudanças climáticas, apesar do risco que elas significam para o mundo inteiro. Devido ao aquecimento das temperaturas, estima-se que cerca de 28, 5 mil km² (quase 20 vezes a área do município de São Paulo) das camadas de gelo e geleiras da Groenlândia derreteram ao longo das últimas três décadas. Se o gelo da ilha se desfizer completamente, isso poderia fazer o nível do mar subir até 7 metros, de acordo com a agência espacial Nasa.
Mas também é justamente o recuo do gelo da Groenlândia que pode abrir novas áreas para perfuração de petróleo e gás (acredita-se que o Ártico detenha 13% das reservas de petróleo não exploradas do mundo e 30% do gás natural), bem como para exploração de minerais críticos. A ilha tem reservas de 43 dos 50 minerais considerados “críticos” pelo governo americano, e essenciais para a transição a uma economia verde. Só as terras raras que já foram descobertas somam 42 milhões de toneladas desses recursos, cerca de 120 vezes mais do que o mundo inteiro minerou em 2023.
Além disso, o tráfego de navios no Ártico aumentou 37% na última década, de acordo com um relatório recente do Conselho Ártico, à medida que o gelo marinho diminuiu. Mais derretimento poderia abrir ainda mais rotas comerciais – e quem obtiver o controle delas pode se beneficiar de trajetos mais curtos e taxas menores.
Mas a ilha em si, por enquanto, pode aproveitar pouco dos benefícios colhidos ao preço altíssimo do aquecimento global, já que é extremamente dependente dos subsídios da Dinamarca para sua economia, apesar de ter deixado de ser colônia em 1953. Sua principal atividade é a pesca.
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