O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor uma tarifa de 200% sobre vinhos, champanhes e outras bebidas alcoólicas vindas da França e de outros países da União Europeia (UE). A medida é mais um capítulo na crescente guerra comercial entre os dois lados do Atlântico.
Em uma publicação nas redes sociais na quinta-feira (13), Trump afirmou que avançará com essas taxas de importação se a UE mantiver uma tarifa sobre as exportações de uísque americano. A medida europeia é uma retaliação às tarifas impostas por Trump sobre o aço e o alumínio, que entraram em vigor na quarta-feira (12).
“Se essa tarifa não for removida imediatamente, os EUA imporão em breve uma tarifa de 200% sobre TODOS OS VINHOS, CHAMPANHES E BEBIDAS ALCOÓLICAS VINDOS DA FRANÇA E DE OUTROS PAÍSES DA UE”, escreveu Trump, referindo-se às taxas que podem atingir o bourbon americano. “Isso será ótimo para as empresas de vinho e champanhe dos EUA.”
As ações de fabricantes europeias de bebidas alcoólicas caíram após o anúncio. A LVMH, dona das marcas de champanhe Moët & Chandon e Veuve Clicquot, chegou a recuar 2,2%. Já a Rémy Cointreau, produtora de conhaque, caiu 4,5%, e a Pernod Ricard, fabricante de destilados, perdeu 3,6%.
Laurent Saint-Martin, ministro do Comércio da França, reagiu à ameaça em uma publicação no X: “Trump está escalando a guerra comercial que ele mesmo decidiu iniciar. Não vamos ceder a ameaças e sempre protegeremos nossas indústrias.”
Enquanto isso, os mercados financeiros dos EUA, após semanas de volatilidade e perdas, registraram alguns ganhos na quarta-feira, mas os futuros caíram na quinta-feira.
Em resposta às tarifas de Trump sobre metais, a UE planeja contra-ataques com taxas sobre produtos americanos que somam até €26 bilhões (US$ 28,3 bilhões). Além disso, o bloco europeu iniciará consultas com seus Estados-membros para adotar, até meados de abril, listas adicionais de produtos agrícolas e industriais que poderão ser taxados em até 25%.
“O presidente ficou extremamente irritado com a atitude dos europeus”, disse o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, à Bloomberg Television na quinta-feira. “Ele se preocupa com os Estados Unidos e quer cuidar dos americanos. Por que os europeus estão mirando no bourbon do Kentucky e nas motos Harley-Davidson?”
Lutnick se referia a produtos icônicos dos EUA que foram alvo de tarifas durante o primeiro mandato de Trump, em meio a disputas comerciais com a UE. Essas taxas foram suspensas após um acordo de trégua firmado pelo governo Biden, que expira em 31 de março. Sem um novo acordo ou extensão, as tarifas voltarão a vigorar, possivelmente com valores ainda mais altos.
Negociações em andamento
Lutnick, que afirmou ter planos de conversar com autoridades da UE ainda na quinta-feira, disse esperar que “eles percebam que deveriam recuar nessas medidas”. Um porta-voz da UE confirmou que as conversas estão marcadas.
Trump também prometeu uma nova rodada de tarifas em apenas três semanas, afirmando que começará a implementar as chamadas “tarifas recíprocas”. A Casa Branca planeja aplicar uma taxa geral a cada país, baseada em cálculos sobre suas próprias tarifas e barreiras comerciais, como impostos digitais ou taxas sobre valor agregado.
Isso pode inflamar ainda mais a guerra comercial, forçando outros países a retaliarem, o que, por sua vez, pode levar Trump a impor mais taxas sob o argumento de reciprocidade. O presidente também prometeu tarifas setoriais separadas para indústrias como automóveis, madeira, semicondutores, farmacêuticos e cobre.
A estratégia de Trump para implementar sua agenda tarifária tem sido marcada por incertezas, com adiamentos, reviravoltas e mudanças de direção. Na terça-feira, ele ameaçou dobrar uma tarifa sobre o Canadá, mas recuou horas depois, quando Ontário suspendeu uma sobretaxa sobre exportações de energia.
O uso de tarifas como ferramenta de pressão em disputas econômicas e geopolíticas tem impactado os mercados. O índice S&P 500 caiu quase 10% desde o pico de fevereiro, alimentando temores de uma recessão.
Trump, que durante seu primeiro mandato frequentemente citava a alta das ações como prova do sucesso de suas políticas, minimizou os efeitos negativos. Na semana passada, ele afirmou que a queda nos mercados era uma oportunidade de compra e uma etapa necessária para reestruturar a indústria e as cadeias de suprimentos dos EUA.
No entanto, o apoio às suas tarifas é, no máximo, moderado. Muitos grupos industriais pedem isenções, e economistas alertam para os efeitos negativos em cascata na economia.
Durante seu primeiro mandato, Trump já havia ameaçado impor tarifas pesadas sobre o vinho francês em resposta à postura da França em relação a impostos sobre empresas de tecnologia americanas. Na época, ele recuou após chegar a um acordo com o presidente francês, Emmanuel Macron.
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