Em um recado claro aos Estados Unidos, o presidente Masoud Pezeshkian afirmou que o Irã não negociará com Washington sob ameaças, dizendo que Donald Trump pode fazer “o que quiser”, relatou a mídia estatal iraniana na terça-feira, 11.
“É inaceitável para nós que eles deem ordens e façam ameaças. Não vamos negociar com vocês. Façam o que vocês quiserem”, disse o presidente.
+ Trump quer negociar acordo de armas nucleares e diz ter escrito ao Irã
No sábado, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, já havia dito que o Irã não seria forçado a negociar, um dia após Trump dizer ter enviado uma carta pedindo que Teerã se envolvesse em negociações sobre um novo acordo nuclear.
Em entrevista à Fox News, exibida na sexta-feira, Trump disse ter interesse em negociar um acordo com o Irã sobre o programa de armas nucleares do país, dizendo esperar que o país sente-se à mesa de negociações.
“Eu disse que espero que vocês negociem, porque será muito melhor para o Irã”, disse o republicano. “Acho que eles querem receber essa carta. A outra alternativa é que temos que fazer algo, porque vocês não podem deixar outra arma nuclear.”
Em 2018, Donald Trump, em seu primeiro mandato, retirou os Estados Unidos do Acordo Nuclear que considerava “o pior acordo já feito na história” e restabeleceu sanções econômicas contra o Irã. Teerã, por sua vez, voltou a enriquecer urânio alegando que os americanos violaram o texto e, portanto, só iriam voltar a cumprir as demandas caso a Casa Branca retirasse as restrições econômicas e cumprisse sua parte.
Tensões recentes
Após o fim do acordo nuclear vigente, o país começou a enriquecer urânio acima do limite estabelecido pelo acordo nuclear internacional de 2015. Autoridades ocidentais alertaram que o tempo está se esgotando para restaurar o acordo antes que o programa do Irã chegue a um ponto em que não possa ser revertido.
As tensões entre Washington e Teerã escalaram e quase culminaram em uma guerra no início de 2020, após os Estados Unidos terem assassinado o general da Guarda Revolucionária e herói de guerra, Qasem Suleimani. Trump também consultou seus conselheiros sobre um ataque às usinas nucleares iranianas ainda em 2020, segundo o The New York Times, mas nunca chegou a dar as ordens finais.
Em janeiro deste ano, o chefe da agência nuclear das Nações Unidas, Rafael Grossi, afirmou que o Irã está “pisando no acelerador” em seu enriquecimento de urânio, chegando a níveis próximos ao necessário para produzir armas nucleares.
“Antes, (o Irã) produzia mais ou menos sete quilos (de urânio enriquecido a até 60%) por mês, agora está acima de 30 ou até mais do que isso. Então, acho que isso é uma indicação clara de uma aceleração. Eles estão pisando no acelerador”, disse Grossi no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU declarou que Teerã atualmente possui cerca de 200 kg de urânio enriquecido a até 60% de pureza, o que seria suficiente para fabricar quatro armas nucleares, caso o metal seja enriquecido ainda mais. No entanto, a organização afirma que o país levaria tempo para instalar e colocar em operação centrífugas para tornar a produção de armas possível.
A AIEA já havia confirmado em um relatório confidencial aos Estados-membros no mês passado que o Irã estava acelerando o enriquecimento de urânio para até 60% de pureza, próximo ao nível que é considerado adequado para a produção de armas. O processo de enriquecimento consiste em refinar a matéria-prima para que ela possa ser usada como combustível na geração de energia nuclear civil ou, potencialmente, em armas nucleares.
A declaração de Grossi gerou preocupação entre as potências ocidentais, que afirmam que não há justificativa para enriquecer o metal a esse nível e que nenhum outro país o fez sem produzir armas nucleares. O Irã, por sua vez, disse que seu programa é inteiramente pacífico e negou estar buscando tais armas.
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