Primeiro líder europeu a visitar Donald Trump desde sua posse como presidente dos Estados Unidos, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi recebido pelo homólogo americano na Casa Branca nesta segunda-feira, 24, em meio às crescentes incertezas e discordâncias sobre o futuro da guerra na Ucrânia, que completa três anos.
Em entrevista à imprensa, após o encontro, Macron ressaltou que EUA e França conseguiram dar “passos muito substanciais à frente”, sobretudo no “desejo compartilhado de construir a paz” na Ucrânia, na marca de três anos da guerra provocada pela invasão russa ao país vizinho.
Para o francês, que disse ter conversado com cerca de 30 líderes europeus e aliados nos últimos dias sobre um possível acordo de paz para a guerra, “a paz não deve significar a rendição da Ucrânia”.
“Não deve significar um cessar-fogo sem garantias. Esta paz deve permitir a soberania ucraniana e permitir que a Ucrânia negocie com outras partes interessadas em relação às questões que a afetam”, disse. “Para nós, europeus, esta é uma questão existencial”.
O tom usado por Macron, no entanto, coloca às claras as profundas diferenças entre a Europa e os Estados Unidos de Trump em relação à guerra. Nas últimas semanas, autoridades ucranianas e europeias se mostraram abaladas nas últimas semanas com a abordagem cordial de Trump com o presidente russo, Vladimir Putin, e sua troca de insultos com o ucraniano Volodymyr Zelensky.
Nos últimos dias, o presidente americano chamou o ucraniano de “ditador”, sugeriu que a Ucrânia é a culpada pela guerra e encerrou os três anos de isolamento diplomático do líder russo ao abrir negociações com Moscou. Autoridades dos Estados Unidos também indicaram a Kiev a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e um retorno às fronteiras pré-invasão (a Rússia ocupa quase 20% do território do país) seriam “irrealistas”, essencialmente aderindo aos termos de Putin para o fim do conflito.
Trump, ansioso para transferir o fardo de apoiar a Ucrânia para a Europa, tenta cumprir sua promessa de campanha de acabar com a guerra o mais rápido possível. Mas a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, insistiu que os Estados Unidos não podem fechar nenhum acordo de paz para acabar com a guerra sem que a Ucrânia ou a Europa estejam envolvidas. Ela criticou as “posições pró-Rússia” assumidas pelo governo americano.
Ao lado de Macron, o presidente americano ressaltou que “o custo e o fardo de garantir a paz devem ser suportados pelas nações da Europa, não apenas pelos Estados Unidos”. Por terem fornecido “muito mais ajuda” que qualquer outra nação, os EUA também merecem “recuperar as quantias colossais de dinheiro que enviamos”.
“É por isso que precisamos ter um acordo com a Ucrânia sobre minerais essenciais e terras raras”, disse. Em entrevista à emissora conservadora Fox News na semana passada, Trump sugeriu que a Ucrânia “pode ser russa um dia” e também estipulou em 500 bilhões de dólares (cerca de 2,89 trilhões de reais) o pagamento em terras-raras que ele quer que Kiev faça por toda a ajuda militar passada e futura dos Estados Unidos.
Trump afirmou que as conversas entre autoridades americanas e russas na semana passada foram “fantásticas” e que os diálogos continuam. Ele ainda disse que acredita que é do interesse de Putin e de Moscou fazer um acordo. O republicano também defendeu as conversas com Putin, dizendo que ninguém estava mais negociando com o líder russo antes de ele tomar essa iniciativa.
O cálculo usado por Trump para citar a ajuda americana a Kiev, no entanto, é problemático. De acordo com o Kiel Institute for the World Economy, um think tank alemão que acompanha ajuda em tempo de guerra para a Ucrânia, a União Europeia e países europeus individuais tinham coletivamente comprometido muito mais ajuda militar, financeira e humanitária total em tempo de guerra para a Ucrânia até dezembro (cerca de US$ 258 bilhões) do que os EUA (cerca de US$ 124 bilhões). A Europa também tinha alocado mais ajuda militar, financeira e humanitária (cerca de US$ 138 bilhões) do que os EUA tinham alocado (cerca de US$ 119 bilhões).
Sobre os minerais, Zelensky já disse estar disposto a um acordo, mas seus recursos são limitados. Dos depósitos importantes de terras-raras na Ucrânia, ele só controla os da região de Dnipropetrovsk. O restante está no leste, onde grande parte do território é dominado pelos russos.
O giro de 180 graus na política de Washington disparou alarmes no velho continente, onde os governos temem ser marginalizados pelos americanos nos esforços para chegar a um acordo de paz.
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