O governo da Rússia teceu elogios aos Estados Unidos, citando as tentativas do presidente Donald Trump de entender as “raízes” que levaram à guerra na Ucrânia — um contraste acentuado em relação à abordagem da Europa, segundo o Kremlin. Os comentários desta segunda-feira, 24, data que marca três anos da invasão russa ao país vizinho, são o reconhecimento mais nítido da Rússia às mudanças políticas propostas pela Casa Branca.
Ao voltar ao poder, Donald Trump reverteu os esforços de Joe Biden para punir e isolar a Rússia, rapidamente tentando reparar laços com seu homólogo russo, Vladimir Putin, e a narrativa russa para o conflito.
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Questionado sobre comentários de Trump sobre Zelensky e Biden, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o próprio governo Trump havia dito que estava reformulando sua abordagem à Rússia.
“É isso que saudamos e apoiamos. Essa é a primeira coisa. Em segundo lugar, esperamos que Washington analise completamente as raízes do conflito ucraniano — isso é, na verdade, o que tentamos fazer com que nossos oponentes na Europa prestassem atenção, e o que eles sempre se recusaram a fazer, assim como o governo anterior de Washington”, disse Peskov.
Nos últimos dias, Trump começou a repetir pontos até então ecoados apenas por Moscou. O presidente dos Estados Unidos chamou seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, de “ditador sem eleições” (seu mandato expirou em maio passado, mas não houve novo pleito devido ao estado de guerra), dizendo que era melhor ele “agir rápido ou não terá mais um país. Ele também sugeriu que Kiev teria sido responsável pelo conflito.
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Enquanto isso, Zelensky acusou o americano de viver em “uma bolha de desinformação” e acreditar nas “mentiras” da Rússia, sustentando que jamais aceitará um acordo de paz que não o inclua nas negociações. O ucraniano acusou ainda os Estados Unidos de tirarem a Rússia do isolamento global em que caiu após invadir a Ucrânia. Ele já havia protestado por ter sido deixado de fora das conversas, ao que Trump respondeu culpando-o por dar continuidade ao conflito ao falhar em firmar um acordo com Vladimir Putin.
Depois de um telefonema de noventa minutos entre os líderes americano e russo na semana passada, Pete Hegseth, secretário da Defesa dos Estados Unidos, proclamou que seria “irrealista” restaurar a integridade territorial ucraniana no âmbito de um armistício e descartou a entrada do país na Otan, jogando a responsabilidade de dar garantias de segurança a Kiev para a Europa. Essencialmente, as negociações começaram nos termos de Putin.
Até mesmo pessoas ligadas ao Kremlin parecem surpresas com a velocidade e intensidade dos acenos e da “mudança de rumo”, segundo avaliação feita por Vladimir Milov, ex-vice-ministro de Energia da Rússia, na semana passada.
Milov disse à CNN que, com base no que ouviu, “todos em Moscou estão totalmente surpresos agora que receberam todas as concessões que queriam, mesmo antes do início das negociações”. O cenário é “um resultado chocante, até mesmo para os padrões de Vladimir Putin”, acrescentou.
Em meio às tensões, líderes europeus estão cada vez mais temerosos de que Trump esteja dando concessões demais à Rússia em sua busca pelo acordo com a Ucrânia, que ele prometeu selar antes mesmo de assumir o cargo. Mas o republicano insiste em que seu único objetivo é a “paz”. para acabar com o maior conflito bélico na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
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