A União Democrata-Cristã (CDU), de centro-direita, ganhou a maioria dos votos nas eleições gerais da Alemanha no domingo 23, colocando o líder do partido, o conservador Friedrich Merz, na pole position para substituir o social-democrata Olaf Scholz como chanceler do país.
Apesar disso, ele arrebatou menos de 30% dos eleitores, enquanto a Alternativa para a Alemanha (AfD), legenda vigiada pela polícia por seu extremismo e relativização do nazismo, conquistou 21% de apoio – dobrando o número de assentos no Parlamento e complicando o cálculo para a formação de uma coalizão, que será necessária para Merz, e qualquer outro, governar.
Durante a campanha, o chefe da CDU já havia descartado totalmente uma coalizão com a AfD, o que voltou a fazer na noite de domingo, após resultados preliminares serem divulgados. No entanto, é possível que conte com votos dos deputados de extrema direita para avançar pautas em comum – o que de certo geraria turbulências com o outro partido a que terá de se aliar para formar um governo.
Orientação empresarial
Merz prometeu timonear a maior economia da Europa retornando às raízes conservadoras da CDU, aliviar as restrições e burocracia que cercam os negócios e reprimir a imigração ilegal.
Um rival de longa data da ex-chanceler centrista Angela Merkel, também da CDU, Merz atacou sua política de “portas abertas” em relação à imigração e atraiu críticas da antecessora por aceitar o apoio da AfD em uma votação sobre o tema no Parlamento.
Eles representam duas correntes políticas dentro do partido. Merz, um advogado empresarial da zona rural de Sauerland, no oeste da Alemanha, é mais conservador do que Merkel, uma cientista por formação, que vem do leste da Alemanha.
A orientação empresarial de Merz é forte. Em 2016, ele se tornou o presidente do conselho de supervisão no escritório alemão da maior empresa de gestão de ativos do mundo, a BlackRock. Também atuou em muitos conselhos corporativos, o que o tornou milionário. Mas, aos 69 anos, nunca ocupou um cargo no governo.
Apesar disso, busca projetar-se como um estadista e expressou confiança de que pode lidar com o volátil presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a quem rotulou de “previsivelmente imprevisível”.
Críticas a Scholz
Enquanto a coalizão tripartite do chanceler Olaf Scholz, de centro-esquerda, fracassava, Merz, como chefe da oposição no Parlamento, lançou críticas fulminantes sobre o governo cessante. Ele rotulou o mandato de Scholz de “três anos perdidos” para a Alemanha e, em um recente discurso inflamado aos colegas legisladores, comparou-o a um gerente de negócios que levou uma empresa à falência, mas ainda pede para estender o contrato por quatro anos, referindo-se à participação do chanceler no pleito.
“Você sabe o que os donos diriam quando parassem de rir?” Merz perguntou ironicamente. “Eles educadamente pediriam para você deixar a empresa. É assim que é na vida normal.”
Economia
A promessa de campanha de Merz era reviver a economia (Berlim entra agora em seu terceiro ano de recessão) e reconstruir a posição internacional do país, criando “uma Alemanha da qual podemos nos orgulhar novamente” – qualquer semelhança com “fazer os Estados Unidos grandes novamente” de Trump não é mera coincidência.
No domingo, Merz pediu negociações rápidas para forjar um novo governo de coalizão, alertando que “o mundo lá fora não está esperando por nós”.
Um liberal e defensor do livre-mercado, quer cortar impostos corporativos e reduzir a burocracia para ajudar o setor empresarial da Alemanha, o que ele descreveu em um livro publicado em 2008, Dare More Capitalism (“Ousar mais capitalismo”, em tradução livre).
Merz tentou transformar sua longa passagem pelo mundo dos negócios em um ponto-chave de sua campanha, tentando vender-se como um outsider, diferente de Scholz.
Imigração
Entre suas promessas mais duras está fechar as fronteiras alemãs para imigrantes sem documentos, mesmo os que buscam asilo, e prender aqueles que aguardam deportação.
Merz já rotulou os filhos de imigrantes muçulmanos de “pequenos paxás” e acusou alguns refugiados de guerra ucranianos de fazerem “turismo de assistência social”.
No mês passado, provocou grande drama no Parlamento — e ondas de protestos — quando aprovou uma moção sinalizando sua repressão à imigração com apoio da AfD, quebrando um tabu histórico de nunca negociar com a extrema direita.
Em outros sinais de uma mudança para a direita, Merz prometeu uma campanha de “tolerância zero” na área da segurança, para reverter a legalização da maconha, limitar políticas “woke” e estudar um retorno à produção de energia nuclear. Seu argumento é que, com isso, pode recuperar eleitores perdidos para a AfD – mas ele ainda pode ter que moderar o discurso enquanto busca um ou mais parceiros de coalizão.
Personalidade
Um católico romano, Merz nasceu em 11 de novembro de 1955 e vive entre as colinas e florestas da região de Sauerland, no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Ele é casado há mais de 40 anos com Charlotte Merz, uma juíza, com quem tem três filhos adultos.
Com 1,98 m de altura, ele se destaca na multidão. Também é conhecido por ser um piloto licenciado, que às vezes pilota seu próprio jatinho particular.
Merz foi eleito para o Parlamento Europeu em 1989 e, logo depois, para o Bundestag, onde seu mentor foi o influente Wolfgang Schaeuble, falecido líder da CDU.
Depois do longo reinado do chanceler Helmut Kohl (que terminou em um escândalo de caixa dois), Merkel tratou de afastar Merz para assumir a liderança da CDU, e seu mandato durou 16 anos. Por conta disso, por mais de uma década, Merz seguiu uma carreira no setor privado, mas nunca desistiu de sua ambição de se tornar chanceler.
A revista alemã Der Spiegel disse que o político leva os conflitos para o lado pessoal e às vezes tem acessos de raiva, opinando que “se Merz fosse um toureiro, ele provavelmente seguraria o pano vermelho na frente do estômago”.
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