Até aqui, o script Jair Bolsonaro não saiu do que se esperava.
A denúncia do procurador-geral da República apoia-se no indiciamento já feito pela Polícia Federal e na delação premiada do antigo ajudante de ordens Mauro Cid. Mesmo o sigilo dessa delação, levantado hoje pelo juiz Alexandre de Moraes, não altera o quadro.
Que, segundo a denúncia, era o de uma organização criminosa envolvida na preparação de um golpe de Estado para reverter o resultado da eleição de 2022.
A defesa técnica de Bolsonaro desqualifica a denúncia como inepta, afirma que faltam provas causais robustas e também a individualização das culpas e condutas.
Bolsonaro executa também, sem surpresa nenhuma, o antecipado script. Dizendo que a denúncia é mera perseguição política e afirmando que não tem — ele usou um palavrão — uma eventual prisão.
O mundo dos operadores do direito assume como certa a condenação de Bolsonaro pela Primeira Turma do Supremo. Não só por razões, digamos, técnicas, mas também por razões políticas.
O STF foi um dos principais alvos de Bolsonaro, e a resposta a isso já vem sendo dada pelos ministros do Supremo há muito tempo.
Mesmo no campo da política, o script se mantém. O governo faz de conta que não comenta — mas comenta. A oposição assume em público as dores de Bolsonaro e governadores a ele ligados, de uma forma ou outra, o chamam de inocente.
Onde esse script talvez mude é no embaralhamento da sucessão presidencial que a denúncia já está trazendo.
Lula precisa de Bolsonaro como adversário capaz de galvanizar sua base e mais um pouco. A oposição precisa definir se fecha fileiras com Bolsonaro inelegível, mas ungindo um sucessor.
É um cenário aberto. Um script não escrito.
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