As negociações para que os Emirados Árabes Unidos oficializem uma parceria econômica com o Mercosul estão próximas de um desfecho positivo. E, para a comitiva de Relações Exteriores do país, a aliança pode servir como uma maneira de aproveitar a “oportunidade” dada às nações do chamado Sul Global, em meio à guerra tarifária. Caso se confirme, o acordo deve estabelecer comércio livre de tarifas entre o país árabe e os membros do bloco, além de aproximar ainda mais a ponte diplomática com o Brasil.
Em entrevista a VEJA, o vice-ministro para Relações Econômicas e Comerciais dos Emirados Árabes Unidos, Saeed Al Hajeri, contou que o Acordo de Parceria Econômica Integral (CEPA) “está próximo de ser finalizado”. “Isso significa que poderemos ser um hub para o Brasil e para a América Latina, e vice-versa”, afirmou.
A aliança é vista pelo país como estratégica. E o Brasil, como um “portão para a América Latina”, o que ganha importância ainda maior em meio à guerra tarifária. Para os Emirados Árabes, ainda é cedo para tratar o cenário econômico como de recessão, mas há, sim, “desafios” e um “momento de incertezas”. Al Hajeri pontua, contudo, que é também uma “oportunidade” para que os países do Sul Global trabalhem e cresçam juntos.
“O objetivo final de algo como o BRICS é trabalhar prontamente e encontrar oportunidades para cada um, através do Sul Global, em que não precisamos depender apenas de um parceiro de comércio ou de um investimento para mitigar as preocupações de uma recessão. Há uma grande chance de aproveitar o que está acontecendo, com as regras de comércio e os acordos sendo redirigidos. Uma oportunidade para estarmos abertos, não fechados”, explica o vice-ministro, para quem, no Brasil, “o poder político e o poder econômico são muito alinhados”, como acredita que deveria ser.
“Se utilizarmos bem teremos a capacidade de criar novos caminhos para o crescimento da nossa economia e mitigar a recessão em potencial. Nós acreditamos que a economia liderará a prosperidade para os países e deveria, de alguma forma, ditar o tom para a política, não o contrário”, completa.
Desenvolvimento sustentável

Em coletiva à imprensa, a ministra de Estado para Cooperação Internacional dos Emirados Árabes Unidos, Reem Al Hashimy, reiterou a importância de uma colaboração mútua dos países como a “ferramenta mais forte para construir consensos e alcançar resultados” em “tempos de incerteza”. Para a chanceler, é este o caminho que permite “manter uma política de portas abertas, fomentando conexões globais dinâmicas e proporcionando um ambiente estável onde empresas e nações podem colaborar, acessar novos mercados e prosperar”.
Temas prioritários, e que tem conduzido as cúpulas internacionais nos últimos anos, a transição energética e a sustentabilidade também foram apontadas como motores fundamentais para o desenvolvimento, por Al Hashimy. Ela reforça que, mesmo em meio aos desafios impostos pelo cenário econômico, é importante marcar posição no debate climático e não interromper avanços.
“Nossa diplomacia se baseia no respeito e no equilíbrio. Acreditamos na construção de pontes centradas no ser humano em um mundo complexo. Também reconhecemos que o desenvolvimento econômico não pode ser separado da sustentabilidade. Não podemos abordar o desenvolvimento econômico sem abordar a resiliência climática. Ao investir em energia renovável, tecnologias verdes e infraestrutura sustentável, os Emirados Árabes Unidos não apenas salvaguardam seu futuro, mas também contribuem ativamente para as metas climáticas globais, mesmo em meio a incertezas econômicas mais amplas”, disse.
Além da chanceler dos Emirados Árabes Unidos, se reúnem ainda representantes de Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Indonésia e Irã — além, claro, do Brasil. Os encontros acontecem no prédio do Palácio do Itamaraty no Rio, e a guerra tarifária deve dar o tom.
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