Um apagão massivo atingiu Portugal, Espanha e outros países europeus nesta segunda-feira, 28, em razão de um fenômeno atmosférico raro que gerou oscilações na rede elétrica espanhola.
A operadora de eletricidade portuguesa, a REN, explicou que a queda geral de luz foi resultado de uma “vibração atmosférica induzida”, quando há variações anormais nas linhas de alta tensão por mudanças extremas de temperatura. Acredita-se que a normalização pode levar até uma semana.
A oscilação de temperatura ocasionou “falhas de sincronização entre os sistemas elétricos, ocasionando perturbações sucessivas em toda a rede europeia interligada”, segundo a REN.
Membro sênior do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), Euclides Chuma alertou que, com o avanço da mudança climática, blecautes podem se tornar mais comuns, trazendo à tona problemas em larga escala para redes interligadas.
“O transformador fica exposto ao tempo. Num dia muito quente, tem que trabalhar numa temperatura muito alta. Todos os componentes mecânicos se dilatam. Daqui a pouco, vem uma uma frente fria e todos os componentes contraem, o que pode levar ao rompimento de algum cabo”, disse a VEJA. “Uma das alternativas é projetar os transformadores para serem mais suscetíveis a essas mudanças climáticas.”
“Nós temos que nos preparar. Os transformadores são uma tecnologia antiga. Temos que procurar soluções que sejam robustas e mais resiliente. Geralmente, a transmissão de energia elétrica no Brasil é feita por cabos aéreos, talvez seja necessário trocarmos para subterrâneos, como nos gasodutos”, acrescenta Chuma, que também é professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Problemas generalizados
A Renfe, operadora ferroviária da Espanha, informou que houve uma queda de energia em nível nacional, causando a parada de trens e o cancelamento de viagens. No país, o blecaute afetou diversas cidades como Madri, Sevilha, Granada, Málaga e Cádiz. O jogo do Madrid Open entre Dimitrov e Fearnely precisou ser paralisado no segundo set, depois que uma câmera ficou parada em cima da quadra.
Segundo a jornais locais, o problema se estendeu pela Península Ibérica e atinge também linhas telefônicas e semáforos. Nos aeroportos, os embarques estão sendo feitos “à moda antiga” e o check-in de forma manual. A expectativa é que de que a conexão começará a ser restabelecida a partir das 13h locais (9h em Brasília) no norte e no sul da península.
“Como o sistema europeu é integrado, o problema vai se alastrando. A integração é boa e ao mesmo tempo também gera esse tipo de problema”, afirmou Chuma a VEJA. “É uma reação em cadeia. Os voos são atrasados e a população fica sem luz, além de afetar o funcionamento do comércio eletrônico, do setor de telecomunicações e das bolsas de valores. Não tem como retirar o mercado da Espanha e de Portugal do mapa de investimentos.”
“Isso também acontece aqui no Brasil. O problema de subestação de uma localidade acaba se propagando para outra região. O Brasil é um país muito grande”, acrescentou. “Todos esses sistemas têm redundâncias. Alguns deles, são muito grandes. Não é possível, por exemplo, substituir uma Itaipu, que é responsável por uma boa parte da energia elétrica no Brasil. É difícil trocá-la por outra fonte de energia. E a mesma coisa acontece lá. Provavelmente, deu problema na fonte europeia.”
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Próximos passos
A E-Redes, que fornece eletricidade para Portugal, afirmou em comunicado que está trabalhando para restabelecer a conexão. “Este é um problema europeu mais amplo”, afirmou a empresa em comunicado, segundo a agência de notícias Reuters.
“A primeira coisa que eles vão fazer é restabelecer energia, procurar resolver o quanto antes, principalmente nos grandes centros. São áreas que demandam mais da infraestrutura elétrica. A mobilidade, o setor de telecomunicações e hospitais têm prioridade”, disse Chuma. “Vai sendo aos poucos, já que toda energia precisa ser estabilizada até chegar ao consumidor.”
Os governos espanhol e português estão investigando o blecaute com várias equipes técnicas, segundo o jornal El País. O jornal local Diário de Notícias indicou que o grupo que liga todo os fornecedores de energia portugueses já reportou a situação ao Centro Nacional de Cibersegurança. No entanto, a possibilidade da rede elétrica europeia ser alvo de um ciberataque é baixa, de acordo com o engenheiro.
“Ataques hackers são pouco prováveis porque esses sistemas normalmente não estão conectados à internet. O mais comum é um problema de infraestrutura física. Há muita segurança envolvida. É muito mais fácil colocar uma bomba no transformador do que burlar as barreiras de segurança, precisaria de ajuda interna”, concluiu.
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