Se os consumidores acreditam que a inflação logo chega, podem gastar mais hoje. Ou não, se também estiverem preocupados em perder o emprego. Há sinais conflitantes vindos das maiores administradoras de cartão de crédito dos EUA. Algumas mostram gastos maiores dos clientes, outras, menores. O que está claro é que diferentes grupos de consumidores estão respondendo à sua maneira.
Várias empresas de crédito relataram um aumento nos gastos no primeiro trimestre em relação ao ano passado, com algumas atribuindo isso em parte a um “adiantamento” de compras futuras. Em outras palavras, as pessoas hoje estão comprando defensivamente coisas que podem se tornar mais caras, por conta das políticas tarifárias do presidente Trump.
Baixa renda X alta renda
Contudo, essas empresas também relatam uma mistura de tendências em sua base de clientes. A Synchrony Financial disse a analistas que os consumidores de baixa renda começaram a “reduzir” seus gastos há um ano, enquanto o consumidor de renda mais alta ainda os está aumentando.
Levantamento de março do Instituto Bank of America, que analisa dados anônimos de clientes, mostraram que o crescimento dos gastos foi mais lento para famílias de baixa renda do que para as de renda média e alta.
Comportamento da baixa renda
Embora as famílias de baixa renda possam ter menos flexibilidade em seu orçamento, isso não parece impedi-las de comprar antecipadamente quando preveem preços futuros mais altos.
De fato, uma pesquisa do Federal Reserve Bank de Dallas publicada em 2021, durante o surto de inflação após a pandemia, mostrou um efeito maior para esses consumidores.


Menos dívidas
Com expectativas de inflação mais alta, as famílias de baixa renda tiveram aumentos mais fortes em seus gastos com bens duráveis — ou seja, coisas que duram o suficiente para valer a pena sua compra, evitando necessidades futuras, segundo o estudo. Esses compradores podem estar contando com a inflação futura reduzindo o fardo de suas dívidas.
No entanto, os pesquisadores do Fed de Dallas também descobriram que, se os consumidores perceberem riscos econômicos, como perda de emprego, podem gastar menos, independentemente de suas expectativas para os preços.
Qualquer “efeito positivo que as expectativas de inflação talvez exerçam sobre o consumo pode ser atenuado se acompanhado pela previsão de maior desemprego”, escreveram eles.
Isso não é necessariamente um problema para as empresas de crédito.
“A moderação nos padrões de gastos é, na verdade, positiva em termos de crédito. Na verdade, somos encorajados por essa retração porque os consumidores não estão exagerando. Eles estão sendo disciplinados”, disse o executivo-chefe da Synchrony, Brian Doubles, a analistas.
Menos aumentos salariais
Além da desaceleração dos gastos, os dados do Instituto Bank of America também mostraram que os salários começam a crescer mais lentamente entre as famílias de baixa renda — um contraste com a tendência dos dois anos anteriores.
Porém, mesmo os consumidores que estão gastando mais não estão necessariamente festejando. Pesquisadores do instituto escreveram recentemente que os dados dos cartões sugerem que “os consumidores estão diminuindo os gastos ‘bons de se ter’, como restaurantes, viagens/turismo e lazer, em fevereiro e março”.
Por outro lado, houve uma forte recuperação nos gastos com bens duráveis em março, após dois meses de quedas.
Não ficou claro se isso foi impulsionado por compras grandes e de alto custo (como, digamos, comprar uma TV ou um eletrodoméstico importado). Mas houve um aumento nos pedidos de financiamento para automóveis no final de março.
Menos viagens
Um lugar onde o declínio da demanda por viagens é claramente visível é nas companhias aéreas, em que os executivos reduziram suas perspectivas para o ano.
O executivo-chefe do Capital One, Richard Fairbank, falando a analistas, observou uma redução nas últimas semanas nos gastos com viagens e entretenimento, particularmente com passagens aéreas.
Na American Express, os negócios gerais de entretenimento cresceram 6% no primeiro trimestre em relação ao ano anterior, após o ajuste para flutuações cambiais, mais lento do que o crescimento de 7% nos gastos com bens e serviços.
Além disso, a empresa observou ainda que as reservas de viagens continuam fortes.
Mas o crescimento do faturamento das companhias aéreas desacelerou em relação ao quarto trimestre.
A ansiedade econômica se apresenta de forma diferente em diferentes grupos. O que está claro é que muitos agora estão sentindo isso.
Traduzido do inglês por InvestNews
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