“De nenhuma maneira ou forma, eu sou suicida”, escreveu Virginia Giuffre em dezembro de 2019. “Se alguma coisa acontecer comigo, não deixem passar. Muitas pessoas perversas querem me ver silenciada”. No último dia 21, dominado pela noticia da morte do papa Francisco, a família anunciou que Virginia havia se suicidado na casa de praia comprada com o dinheiro pago pelo príncipe Andrew – dizem que a mãe, a rainha Elizabeth, ajudou – para resolver uma ação cível.
Ao acusar o príncipe de ter desfrutado de seu corpo em três encontros em que foi “presenteada como uma bandeja de frutas”, Virginia tornou-se a vítima mais conhecida do predador sexual Jeffrey Epstein.
Agora, tornou-se o terceiro caso de suicídio suspeito. Primeiro, o próprio Epstein, enforcado numa cela de cadeia em Nova York onde deveria estar sob vigilância constante, numa morte que continua a causar teorias conspiratórias incessantes. Depois, foi um de seus recrutadores de meninas muito jovens, altas, magras e lindas, o francês Jean-Luc Brunel. Também enforcado numa cela, também conhecedor de segredos de ricos e poderosos, também execrável, acusado de estupro por três jovens que esperavam uma chance como modelos e de assédio por inúmeras outras.
Epstein se suicidou em 2019 e Brunel em 2022.
‘PRIMEIRA NAMORADA’
Segundo Virginia, Brunel havia dado um “presente” especial de aniversário a Epstein: trigêmeas francesas de doze anos, vendidas pelos pais pobres para sessões de sexo com o milionário.
É difícil imaginar algo mais pervertido, mesmo para alguém com a ficha de Epstein, literalmente recheada por centenas de casos de jovens recrutadas para lhe oferecer massagens sexuais várias vezes por dia.
Virginia, que então tinha o sobrenome Roberts, foi uma dessas meninas, aliciada pela parceira de Epstein, Ghislaine Maxwell, atualmente cumprindo pena de vinte anos. Ela se tornou a favorita, a “primeira namorada”. Viajava de mansão em mansão no avião particular conhecido como “Lolita Express”. Também ia muito para a ilha dele, chamada de forma igualmente reveladora de “Ilha dos Pedófilos”.
Epstein cultivava o sexo incessante e figuras importantes. A lista de frequentadores de sua coleção de casas continua a estarrecer, de Bill Clinton a Donald Trump; de Ehud Barak, ex-primeiro-ministro de Israel, a Woody Allen. Figurões do mundo acadêmico, milionários das finanças, celebridades artísticas um cientista do teor de Stephen Hawking. No alto da lista, Andrew – nada se iguala a fisgar um membro da família real para o seu círculo de influências.
Foi a desgraça do príncipe. Por causa da intimidade com o criminoso sexual e das mentiras que contou, perdeu as posições oficiais, os títulos militares honorários e até a forma de tratamento, sua alteza real.
Virginia mostrou como prova uma foto tirada em Londres, onde Andrew a enlaça pela cintura e Ghislaine Maxwell sorri ao fundo. Ela tinha 17 anos e não parecia nada infeliz. “Amigos” disseram que a foto é armação, apontando o fato de que a mão em torno de Virginia não mostrava seus “dedos de linguiça”, iguais aos de Charles. Mas o príncipe só foi despencando depois disso, inclusive por uma entrevista desastrosa com a qual achava que defenderia sua inocência.
SEM FINAL FELIZ
Agora, com a morte de Virginia, qualquer esperança de que o irmão rei eventualmente o redimiria acaba. Também renascem as teorias conspiratórias, mesmo diante das evidências de que Virginia estava numa espiral perigosa, revelada quando postou no Instagram uma foto com hematomas, dizendo ter sofrido um acidente suspeito que a deixou com falência renal. “Eles me deram quatro dias de vida”, escreveu.
O acidente tinha sido pequeno e é possível que os machucados tenham sido provocados pelo marido, Robert Giuffre, numa triste inversão de seu papel de salvador. Segundo Virginia, ela o conheceu quando Epstein a mandou fazer um “curso de especialização” de massagem na Tailândia. Apaixonaram-se, Robert aceitou sua bagagem e a ajudou a ver como era explorada. Casaram-se em dez dias, foram morar na Austrália e tiveram três filhos.
Em vez de um final feliz, acabou em desgraça, brigando com o marido e com a possibilidade de perder a guarda dos filhos.
Mesmo quem descrê de teorias conspiratórias pode ver que o fardo emocional colocado sobre Virginia por sua história de exploração sexual foi pesado, talvez insuportável. Duas outras vítimas de Epstein morreram de overdose depois que, como Virginia, vieram a público falar sobre suas experiências.
Virginia morreu aos 41 anos. Teria deixado alguma coisa sem contar? Os adeptos do conspiracionismo sempre acreditarão que sim.
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