25 de abril de 2025

Plano de Trump para acordo de paz na Ucrânia: prag…

É possível aceitar uma paz injusta? Esta é a realidade que a Ucrânia tem que enfrentar. O plano de paz de Donald Trump agora sobre a mesa oficializa a perda dos territórios invadidos pela Rússia. Ou seja, contraria o princípio internacional da inviolabilidade das fronteiras e também o mais elementar senso de justiça, pelo qual os países agressores não podem ser premiados e os agredidos, revitimizados.

O plano, que ainda está sendo negociado, tem sete pontos. São, simplificadamente:

  • Cessar-fogo imediato, proposta com a qual a Ucrânia já havia concordado anteriormente.
  • Reconhecimento de facto dos territórios ocupados (A Ucrânia, um país do tamanho aproximado de Minas Gerais e com um formato parecido com o do estado de São Paulo, fica portanto com 20% de seu território perdido).
  • A Crimeia, península ocupada pelos russos sem derramamento de sangue em 2014, passa a ter reconhecimento oficial, chamado de jure, como território da Rússia – há dúvidas sobre a legalidade internacional dessa medida. Constitucionalmente, a Ucrânia não pode aceitar isso.
  • A Ucrânia fica proibida de tentar se tornar membro da Otan, mas países europeus poderiam instalar uma força de paz por conta própria.
  • A Rússia cede um pequeno, mas estratégico território na foz do rio Dnipro, mantendo assim o acesso via fluvial da Ucrânia ao Mar Negro.
  • Os Estados Unidos assumem o controle da usina nuclear de Zaporijia, atualmente sob domínio russo, com o compromisso de reativá-la e fornecer energia elétrica aos dois lados.
  • O governo nega, mas há várias versões circulando de que acabariam. as sanções americanas contra a Rússia.

SANGUE DERRAMADO

Como se constata, é um plano bom para a Rússia e ruim para a Ucrânia. Há analistas convencidos de que não só é péssimo, do ponto de vista dos fundamentos da coexistência entre os estados, como abre caminho para um novo conflito. E sem nenhuma garantia de que Vladimir Putin, na próxima investida, se limite a tomar o resto da Ucrânia, como sempre pretendeu e só não conseguiu devido à corajosa resistência dos ucranianos, bancada pelo fornecimento de armas em massa pelos Estados Unidos e a Europa.

Também há dúvidas sobre como os militares ucranianos reagirão. Existe uma tendência a achar que Volodymyr Zelensky decide tudo sozinho, o que é um engano. Há a classe política, notoriamente inflamada, e, como em qualquer guerra, a influência dos comandantes militares é grande. Também como em qualquer guerra, eles tendem a ser linha dura: é o sangue de seus homens que é diariamente derramado.

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Teria sido tudo inútil? Tantas dezenas de milhares perderam a vida para, no fim, o país ver o inimigo ganhar 20% de seu território?

Em 1988, quando o aiatolá Khomeini aceitou o fim da guerra com o Iraque, o país agressor, comparou a decisão a tomar um copo de veneno. Mas o Irã, embora tivesse conseguido reagir, estava alquebrado, não tinha alternativa.

DUAS ALTERNATIVAS

Mesmo em circunstâncias diferentes, a Ucrânia também não tem alternativa: sem o armamento e a inteligência que os Estados Unidos fornecem, ficaria lutando uma guerra com braços e pernas amarrados.

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E mesmo com essa ajuda, e com todo o seu espírito de luta, também é impossível, realisticamente, que retome os territórios tomados. Existe ainda um fator superior a todos: diante de uma eventual humilhação catastrófica no campo de batalha, a Rússia de Putin – ou de um substituto mais linha dura ainda, no caso de virada total de mesa – poderia recorrer a armas nucleares táticas.

Ficamos assim reduzidos a duas alternativas: considerar um acordo de paz a solução pragmática para uma guerra que não pode ser ganha, com a possibilidade de que a Ucrânia venha a sofrer mais perdas ainda, ou uma traição execrável a uma causa justa, além de perigosa para o mundo inteiro.

Como não existem respostas fáceis para perguntas difíceis, talvez sejam verdadeiras as duas opções.

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