A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, que visitou a Casa Branca na quarta-feira 17, tirou uma inesperada carta da manga para negociar com Donald Trump: sua língua materna. A premiê fez reuniões com o presidente dos Estados Unidos e seu vice, J.D. Vance, dando início a uma ofensiva de charme para navegar o relacionamento com Washington em meio às ameaças tarifárias contra a União Europeia.
Trump, encantado com o italiano, concordava com o que nem entendia – inclusive, quando Meloni criticou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, com quem o republicano tem reforçado laços, e refutou que o culpado pela guerra seria o ucraniano Volodymyr Zelensky, como o chefe da Casa Branca havia sugerido há pouco ao seu lado.
“Sabe o que penso sobre a Ucrânia? Penso que houve uma invasão, e que o invasor foi Putin e a Rússia. Mas hoje o importante é que queremos trabalhar em conjunto e estamos trabalhando para alcançar uma paz justa e duradoura na Ucrânia. São esforços que também partilhamos hoje”, afirmou ela.
Sem entender o que foi dito, Trump exclamou: “Isso foi tão bonito!”
Em seguida, perguntou à primeira-ministra italiana: “O que você disse? Quer dizer, soou bom, foi apresentado lindamente”.
Depois de algumas risadas no Salão Oval, o silêncio foi ensurdecedor. Coube à intérprete de Meloni explicar o que havia acontecido e traduzir que, na verdade, a premiê havia sido questionada sobre os Estados Unidos responsabilizarem a Ucrânia pelo conflito, iniciado após uma invasão russa ao vizinho em fevereiro de 2022.
Meloni, então, intervém para explicar o seu ponto de vista em inglês, já de maneira mais branda, afirmando que investir em Defesa “é importante para o futuro”, ao tratar sobre o aumento dos investimentos italianos na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental – Washington critica os europeus por sua dependência no poderio militar americano.
Após ouvi-la, Trump disparou: “Eu não culpo o Zelensky, mas não estou exatamente satisfeito com o fato de que a guerra começou. É uma guerra que nunca teria começado se eu fosse o presidente. Você teria milhões de pessoas vivas agora que estão mortas”.
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Queridinha de Trump
Foi uma pedra no sapato no encontro, que buscou consolidar Meloni como a parceira favorita de Trump na Europa. Em outro momento, a premiê foi bem mais conivente, destacando que apoiava a luta do líder americano contra os programas DEI (voltados para a Diversidade, Equidade e Inclusão) e a “ideologia woke”, termo guarda-chuva para todo tipo de progressismo que os conservadores usam de maneira pejorativa.
Ela convidou Trump para visitar Roma “num futuro próximo”, o que foi bem recebido pelo republicano. Eles, no entanto, não marcaram uma data para a viagem. A primeira-ministra também prometeu comprar mais gás americano e expressou desejo de que empresas italianas investissem mais nos Estados Unidos, parte de uma tentativa de amaciar Trump em relação ao tarifaço – a União Europeia foi alvo de impostos de 25% sobre aço, alumínio e carros, além das novas taxas “recíprocas” de 10%.
“Sei que, quando falo principalmente do Ocidente, não me refiro ao espaço geográfico. Falo da civilização, e quero torná-la mais forte”, disse Meloni, reforçando as afinidades com Trump. “Então, acho que mesmo que tenhamos alguns problemas entre as duas margens do Atlântico, é hora de tentarmos sentar e encontrar soluções.”
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