O retrato de um menino palestino que perdeu os dois braços em um ataque de Israel à Faixa de Gaza conquistou o principal prêmio da World Press Photo 2025, a mais prestigiosa premiação de fotojornalismo do mundo, nesta quinta-feira, 17 de abril.
A imagem, registrada pela fotógrafa Samar Abu Elouf para o jornal The New York Times, mostra Mahmoud Ajjour, de nove anos, que foi ferido em uma explosão enquanto tentava escapar de um bombardeio em março do ano passado.
A foto foi tirada em Doha, no Catar, para onde Mahmoud foi levado em busca de tratamento médico após as amputações. O menino está se recuperando, aprendendo a escrever, brincar e até abrir portas com os pés, embora ainda dependa de ajuda para realizar tarefas cotidianas, como comer e se vestir, segundo a World Press Photo.
Abu Elouf, também nascida em Gaza, deixou o território palestino em dezembro de 2023, durante os primeiros meses da ofensiva militar israelense. Atualmente, vive em Doha e documenta a situação dos palestinos feridos que conseguem deixar Gaza.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, a fotógrafa contou uma das frases mais marcantes ditas por Mahmoud após a amputação: “Como vou conseguir te abraçar?”, disse ele à mãe, ao perceber a gravidade de seus ferimentos.
A diretora-executiva da World Press Photo, Joumana El Zein Khoury, destacou que a imagem, embora silenciosa, “diz muito”. Segundo ela, a fotografia “conta a história de um menino, mas também de uma guerra mais ampla que terá impacto por gerações”.
“O sonho de Mahmoud é simples: ele quer obter próteses e viver sua vida como qualquer outra criança”, escreveu a World Press Photo em comunicado.
O júri elogiou a “forte composição e atenção à luz” da foto, destacando seu tema comovente, que levanta questões sobre o futuro de Mahmoud e também reflete sobre a “desumanização de uma região, o ataque implacável a jornalistas em Gaza, e a contínua negação de acesso a repórteres internacionais que buscam expor as realidades desta guerra”.
Crianças amputadas em Gaza
Entre 3 e 4 mil crianças sofreram amputações em Gaza até 4 de novembro do ano passado, disseram Jamal al-Rozzi e Hussein Abu Mansour, dois especialistas proeminentes em programas de reabilitação no território, à agência de notícias The Associated Press. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que até 17.500 pessoas tiveram ferimentos graves nos membros e necessitam de assistência.
Muitos casos de amputação poderiam ter sido evitados, mas a escassez de medicamentos básicos impediu o tratamento adequado de infecções. Profissionais de saúde relatam que precisaram remover membros que, em outros contextos, poderiam ser salvos com mais facilidade.
Organizações humanitárias, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, oferecem próteses e reabilitação a centenas de pacientes, mas os recursos são insuficientes. Há uma demanda urgente por cadeiras de rodas, e Israel impede a entrada de materiais necessários para fabricar próteses, alegando que os insumos poderiam ser usados para fins militares.
Algumas crianças amputadas conseguiram ser enviadas para tratamento no exterior, mas o número de transferências é pequeno e tem diminuído devido à intensificação dos ataques israelenses.
Israel continua bombardeando áreas densamente povoadas em Gaza. Desde outubro de 2023, mais de 51 mil palestinos — a maioria crianças e mulheres — foram mortos, e mais de 116 mil ficaram feridos em ataques israelenses. A destruição forçou o deslocamento de 90% da população de 2,3 milhões de pessoas.
World Press Photo 2025
O júri da World Press Photo 2025 avaliou 59.320 imagens enviadas por 3.778 fotojornalistas e selecionou 42 para serem premiadas em diferentes categorias. Criada em 1955 e com sede em Amsterdã, a premiação internacional é considerada a maior dedicada ao fotojornalismo e à fotografia documental.
O segundo lugar foi concedido a duas fotos: “Night Crossing” (Cruzamento Noturno), de John Moore para a Getty Images, que mostra migrantes chineses tentando se aquecer sob chuva após cruzarem a fronteira entre México e Estados Unidos; e “Droughts in the Amazon” (Secas na Amazônia), de Musuk Nolte para a Panos Pictures e a Fundação Bertha, que retrata um homem carregando suprimentos sobre o leito seco de um rio amazônico.
A chefe do júri global, Lucy Conticello, ressaltou que três grandes temas se destacaram nas imagens premiadas na edição de 2025 do World Press Photo: conflito, migração e mudanças climáticas. “Outra forma de vê-los é como histórias de resiliência, família e comunidade”, disse ela.
Entre os vencedores também estão imagens das enchentes no Rio Grande do Sul, da vitória do Botafogo na final da Copa Libertadores e da tentativa de assassinato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a campanha eleitoral de julho do ano passado.
More Stories
Mauro Vieira diz que asilo a peruana leva em conta…
Vídeo: ucranianos na linha de frente recebem colom…
Governo dos EUA lança site que defende teoria da c…