Pelo menos 85 doadores de esperma ultrapassaram o limite legal de filhos na Holanda, revelou a organização nacional de ginecologia e obstetrícia (NVOG) nesta segunda-feira, 14. A descoberta, que expôs o descontrole das clínicas de fertilização do país, só foi possível após a implementação de um sistema nacional de registro com efeito retroativo, escancarando décadas de irregularidades.
Desde 1992, uma lei estabelecia que nenhum doador poderia gerar mais de 25 filhos, com o objetivo de evitar casos de incesto involuntário e consanguinidade, algo provável em um país pequeno e densamente povoado como a Holanda. O número foi reduzido para 12 em 2018, mas a fiscalização era praticamente inexistente, graças às rígidas leis de privacidade que dificultam o rastreamento.
A organização médica revelou que clínicas ignoraram as normas por anos, trocando amostras entre si sem a documentação adequada ou sem o consentimento dos doadores, além de permitirem que os mesmos homens doassem esperma em diferentes clínicas. Médicos também estariam entre os “doadores em massa”, aqueles que ultrapassaram o limite legal.
“O número de chamados ‘doadores em massa’ deveria ser zero”, disse a ginecologista Marieke Schoonenberg, porta-voz da NVOG, a um programa de TV local.
Segundo os dados da NVOG, desde o fim do anonimato dos doadores em 2004, pelo menos 85 homens geraram 25 ou mais filhos. A maioria teve entre 26 e 40 descendentes, mas alguns chegaram à marca de 75.
Dez dos casos envolvem médicos especialistas em fertilidade, como Jan Karbaat, que, usando seu próprio esperma, gerou pelo menos 81 filhos em sua clínica. Outro caso notório, que virou documentário na Netflix, é o de Jonathan Jacob Meijer, protagonista de O Homem com Mil Filhos, que é pai de pelo menos 550 crianças em todo o mundo — mais de 100 delas concebidas na Holanda.
Para Ties van der Meer, da fundação Stichting Donorkind, que auxilia filhos de doadores a rastrear seus pais biológicos, trata-se de uma “calamidade médica”. Ele estima que existam cerca de 3 mil crianças no país com 25 ou mais meios-irmãos e irmãs.
A organização nacional de ginecologia e obstetrícia pede que mães, doadores e filhos procurem suas clínicas para esclarecer seus dados. O Ministério da Saúde da Holanda prometeu prestar esclarecimentos ao Parlamento ainda nesta semana.
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