13 de abril de 2025

Como funcionaria o protecionismo nos EUA? Olhe para o Brasil, o país das barreiras comerciais

O iPhone é montado no Brasil, a maioria dos carros que circulam pelas ruas brasileiras sai de fábricas locais, e os grandes empregadores são gigantes nascidos aqui.

Mas uma garrafa de champanhe Veuve Clicquot custa US$ 110 (R$ 645). Uma caixa de saquinhos de chá britânico PG Tips, US$ 53 (R$ 310). Maple syrup? US$ 35 (R$ 205).

Tudo isso faz parte de uma economia que aplica algumas das tarifas de importação mais altas do mundo e ergue uma série de outras barreiras comerciais. O Brasil oferece um vislumbre de um sistema econômico semelhante à visão de Donald Trump: a de impor as tarifas elevadas a quase todos os países.

A política protecionista do Brasil, que remonta à Segunda Guerra Mundial, manteve empregos, mas também encareceu os produtos para os consumidores e, segundo economistas, sufocou a concorrência e a inovação.

A estratégia pouco fez para impulsionar a produção industrial do Brasil. Pelo contrário, reduziu a produtividade e levou a alguns escândalos notórios de formação de cartel para determinar preços. A indústria representava 36% do PIB em 1985; hoje responde por 14%, o pior exemplo de “desindustrialização prematura” do mundo, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, com sede em São Paulo.

“As ideias de Trump sobre como fortalecer a indústria dos EUA são semelhantes ao que pensávamos na América Latina logo após a Segunda Guerra Mundial”, diz Maílson da Nóbrega, que foi Ministro da Fazenda no fim dos anos 1980 . “A ideia era a que tarifas protecionistas fortaleceriam a indústria doméstica, se espalhando para serviços e agricultura, e enriqueceriam o país. Bem, não funcionou.”

Crescendo pouco mais de 2% ao ano, em média, nas últimas duas décadas, o Brasil nunca se tornou a potência econômica que seus líderes imaginaram, limitando sua influência no cenário global.

Economistas afirmam que as empresas precisam elevar a produtividade para reforçar a produção industrial — o que se consegue ao aumentar a competitividade e baratear cadeias de suprimentos por meio do comércio, em vez de isolar o mercado. A produtividade do trabalho no Brasil é cerca de um quarto da dos EUA, de acordo com o Our World in Data, banco de dados da Universidade de Oxford.

A economia dos EUA também tem suas ineficiências, mas nada que se compare ao caso do Brasil. As empresas americanas geralmente se beneficiam de uma infraestrutura melhor, menos burocracia e um sistema tributário mais simples.

Disputas fiscais no Brasil, que valem bilhões de dólares e se arrastam por anos, podem quebrar uma companhia, segundo advogados e pesquisadores — é parte do chamado “Custo Brasil”, o alto preço de fazer negócios no país. Tanto que aquele iPhone 16 fabricado no Brasil custa quase o dobro do modelo chinês vendido nos EUA por US$ 799 (R$ 4.700). [Nota: só os modelos básicos do aparelho são feitos por aqui, na fábrica da Taiwanesa Foxconn, em Jundiaí (SP); as versões Pro e Pro Max vêm da China]

No Brasil, o comércio responde por apenas 18% do PIB, bem abaixo dos 35% da outra grande economia da América Latina, o México. Nos EUA, o comércio equivale a 25% do PIB.

A tarifa média de importação do Brasil é de 11,2%, mostrou um relatório recente do Escritório do Representante de Comércio dos EUA. Cotas de importação, exigências de licenças complexas e procedimentos aduaneiros lentos e burocráticos são outras barreiras.

O vasto mercado interno já provou ser bênção e maldição. O Brasil recorreu ao consumo doméstico em crises externas, dos choques do petróleo nos anos 1970 à crise financeira de 2008‑09. Mas também criou complacência e protecionismo em tempos prósperos, tornando os produtos mais caros para os consumidores.

“Eles nunca sentiram a pressão competitiva para inovar, reduzir custos e encontrar uma forma de sobreviver em um mercado competitivo”, diz Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica da América Latina no Goldman Sachs.

Brasileiros que podem pagar por produtos importados normalmente desembolsam várias vezes o preço que pagariam nos EUA. A diferença de valores é tão grande que os ricos do país passam boa parte das férias no exterior fazendo compras.

O Brasil abraçou o protecionismo pela primeira vez na década de 1930, sob o presidente Getúlio Vargas, que assumiu o poder e instaurou uma longa ditadura.

Como outros países latino-americanos, o Brasil adotou uma estratégia de substituição de importações para estimular a manufatura local e reduzir a dependência de produtos estrangeiros, elevando tarifas e impondo outras barreiras.

As tarifas, porém, trouxeram alguns benefícios.

Grande parte do Brasil moderno foi construída com o apoio de políticas protecionistas, que fomentaram as chamadas indústrias nascentes, as quais teriam sido esmagadas pela concorrência estrangeira. A mineradora Vale e a fabricante de aviões Embraer — outrora estatais protegidas por subsídios — tornaram-se hoje empresas privadas de sucesso e líderes globais em seus setores.

O problema, porém, é que o Brasil continuou a sustentar indústrias pouco competitivas muito além de sua fase inicial, injetando dinheiro público na fabricação de automóveis e em estaleiros em dificuldades, por exemplo. O país não definiu prazos para esses apoios nem o vinculou a metas de exportação, como alguns países asiáticos fizeram.

Em uma viagem recente ao Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou as políticas comerciais de Trump, dizendo: “Precisamos superar o protecionismo e garantir que o livre‑comércio possa crescer.”

Mas seu Partido dos Trabalhadores, de esquerda, defende o protecionismo há décadas, revertendo parte do progresso obtido na abertura da economia nos anos 1990.

“É um pouco hipócrita”, disse Lucas Ferraz, ex‑secretário de comércio exterior do Ministério da Economia do Brasil. “Eles adotaram exatamente o modelo que Trump tem em mente.”

Traduzido do inglês por InvestNews

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