Quando acordei na segunda-feira e vi que o Filme de Minecraft tinha se tornado uma das maiores estreias de 2025, fiquei em choque. Não pelo sucesso — que já parecia inevitável —, mas porque o longa é ruim. E ainda por cima abre um precedente perigoso para o futuro das adaptações de games.
Após Sonic 3 conquistar jogadores com sua qualidade e Super Mario bater US$ 1 bilhão com sua bela animação e referências, eu não imaginei que o longa-metragem da Microsoft conseguiria fazer sucesso com uma proposta tão torta.
Afinal, precisamos ser francos: desde seu anúncio, o filme de Minecraft tem se mostrado, no mínimo, estranho. Adaptar a estética do jogo para um visual realista, colocar Jack Black como Steve e complementar o elenco com Jason Momoa são escolhas, no mínimo, duvidosas.
Ainda assim, com a ajuda de memes e uma comunidade engajada, o longa-metragem bateu nada menos que US$ 300 milhões em bilheteria em um fim de semana. A grana foi suficiente para alçar o filme dos bloquinhos para o top 3 de maiores estreias do ano, além de colocá-lo entre as 15 maiores adaptações de games de todos os tempos.
O mais preocupante? Tudo isso aconteceu com uma obra que claramente ficou longe de explorar todo seu potencial. E ainda pior: esse sucesso pode passar uma mensagem perigosa para Hollywood.
O que explica o sucesso de Minecraft?
Minecraft possui cerca de 204 milhões de jogadores ativos mensais, de acordo com a Demand Sage. Esse número de dezembro de 2024 não inclui todas as pessoas que abandonaram o jogo com o tempo ou já foram impactadas por conteúdos do game, que já foi tema de vídeo de centenas de youtubers famosos atualmente.
O sucesso do longa-metragem já pode ser explicado aí, nessa grande base de público. O grande acerto do filme é conseguir conversar com essa base gigantesca de jogadores, mesmo com sua abordagem totalmente bizarra.
De quebra, o filme ainda viralizou online com seus trailers, gerando uma onda de memes entre jogadores engajados de Minecraft — o Chicken Jockey, inclusive, até virou caso de polícia. Com isso, o longa-metragem caiu nas graças de seu público-alvo, que pode segurar a bilheteria inicial do filme e ajudá-lo a furar uma bolha para o público maior.
Filmes para criança não precisam ser ruins
Em um momento em que séries como The Last of Us e Fallout mostram que é possível adaptar games com profundidade, ver Minecraft abraçar o caminho oposto — o da superficialidade e do viral — é desanimador. E muitas pessoas podem dizer que “o filme é feito para crianças”, mas isso não serve como desculpa para fazer algo ruim.
Diversos filmes com classificação livre marcaram gerações e possuem uma boa recepção de público e crítica. Quer um exemplo? O longa-metragem Paddington, que possui a mesma classificação indicativa de Um Filme Minecraft, é um dos mais aclamados da história do Rotten Tomatoes.
No mundo das adaptações de games, temos exemplos como a série de Cuphead, da Netflix, que é ainda mais infantil que o filme de Minecraft. Ainda assim, a produção explora bem o seu material original, sem precisar de apoiar em rostos conhecidos do cinema.
A mensagem errada para Hollywood
Enquanto é sempre bom ver jogos fazendo sucesso, esse atropelo nas bilheterias pode passar a mensagem errada para Hollywood: executivos desavisados podem entender que live-actions com atores famosos funcionam e são positivos. Encabeçado por Jack Black como Steve, o longa-metragem claramente tenta empurrar Jason Momoa como um coprotagonista que é meio forçado e não faz tanta diferença na narrativa.
A presença desses figurões, que também fazem parte da produção do filme, pode dar a entender que a certos estúdios que os atores são o grande motivo do sucesso dos filmes. Afinal, Super Mario, que quebrou a barreira do US$ 1 bilhão, também tinha Jack Black no seu elenco.
A verdade, no entanto, é que o filme só se sustenta com seu público graças às piadas internas e memes que engajaram com a comunidade. No fim das contas, Um Filme Minecraft é um sucesso por ser um filme de Minecraft, com ou sem Jack Black e Jason Momoa.

E a pior parte: o longa-metragem claramente podia ser muito melhor se tivesse um roteiro decente e não ficasse ancorado apenas na nostalgia dos jogadores e na presença dos grandes atores. Recheado de referências, o filme de Minecraft não só é uma forma de expandir a franquia financeiramente, mas parece buscar a aprovação da indústria cinematográfica a todo momento.
É como se todos aqueles memes e sacadas precisassem ser transportados para a tela e exibidos em segundos para terem alguma importância. É como se os filhos, que jogaram Minecraft por anos, estivessem apontando para a tela e dizendo para seus pais: “olha aqui, como esse universo que eu amo é muito legal.”
Chega a ser irônico o longa-metragem ser lançado cerca de um mês após Split Fiction, novo jogo de Josef Fares. O desenvolvedor, que já venceu o The Game Awards, ficou mundialmente conhecido por mandar o Oscar se ferrar ao vivo durante a premiação de jogos, mostrando que a indústria de entretenimento interativo de bilhões definitivamente não precisa de validação para ter sua importância reconhecida.
Minecraft 2 pode melhorar esse cenário
Com o sucesso de bilheteria, uma sequência de Minecraft 2 é quase uma certeza — e aparentemente já está sendo discutida. Com isso, agora só podemos torcer para que o futuro da franquia nos cinemas não seja coberto de arrogância e siga o exemplo de outros sucessos de adaptações de games.
Produções que perduraram nesse segmento provam que um dos segredos do sucesso é ouvir o público gamer e aceitar os feedbacks de jogadores. O maior exemplo disso é a franquia Sonic, que começou extremamente mal com um trailer assustador e, hoje, conta com três filmes que são amados pelo seu público e viraram referência entre crianças e jovens.
Outra produção que está tentando ouvir os fãs para tentar fazer sucesso no mundo dos games é Mortal Kombat. Enquanto o primeiro longa-metragem da franquia apresentou novos personagens que não agradaram, a sequência, que chega em 24 de outubro de 2025, vai focar em lutadores clássicos, como Johnny Cage e Kitana.
Com o retorno em uma sequência, quem sabe Minecraft tire o foco de Jason Momoa e outros personagens secundários. Com a saída dos figurões e mais foco no jogo, assim como aconteceu com Sonic, talvez o próximo longa dê mais atenção para o universo de Minecraft, que realmente possui “os diamantes” que podem garantir um sucesso cada vez maior para a franquia nos cinemas.
E aí, qual a sua opinião sobre o filme de Minecraft? Comente nas redes sociais do Minha Série.
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