2 de abril de 2025

Vespa da era dos dinossauros usava armadilha na barriga para capturar presas

Em uma descoberta única e significativa no campo da paleontologia de insetos, uma equipe internacional de pesquisadores identificou uma vespa parasita datada do período Cretáceo médio, há aproximadamente 100 milhões de anos, com um mecanismo corporal bizarro: um abdômen parecido com o de uma planta carnívora, destinado a capturar e imobilizar suas presas.

Segundo o estudo, publicado recentemente na revista BMC Biology, a vespa foi a princípio classificada dentro da superfamília Chrysidoidea, que inclui abelhas, vespas e formigas. No entanto, devido às peculiaridades do inseto, os autores tiveram que criar uma nova família taxonômica (Sirenobethylidae) para acomodar a espécie inédita batizada de charybdis.

Para eles, a S. charybdis não era uma predadora, mas sim uma vespa parasitoide koinobionte, ou seja, um inseto que deposita seus ovos dentro ou sobre os insetos hospedeiros capturados por sua “armadilha” abdominal, mas não os mata. Ela permite que o hospedeiro continue vivendo e se desenvolvendo, até que suas larvas cresçam dentro dele, alterando sua fisiologia e consumindo os seus órgãos vitais e causar sua morte. 

Como foram coletadas as vespas do Cretáceo?

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Sirenobethylus charybdis, holótipo fêmea. (Fonte: Qiong Wu et al., BMC Biology, 2025/Divulgação)

Os pesquisadores Taiping Gao, Lars Vilhelmsen e seus colegas da Universidade Normal da Capital, na China, e do Museu de História Natural da Dinamarca utilizaram uma técnica de imageamento que funciona como uma versão em miniatura da tomografia computadorizada. Chamada Micro-CT, a tecnologia usou raios-X para detalhar 16 espécimes fêmeas da espécie S. charybdis.

Preservados em âmbar e datados de 98,79 milhões de anos, os fósseis foram coletados na região de Kachin, no norte de Mianmar. Essas minúsculas vespas primitivas possuem um aparelho abdominal de três abas, com uma estrutura inferior parecida com um remo de doze cerdas, lembrando uma dioneia, uma planta carnívora popularmente conhecida como armadilha-de-vênus. 

Em um comunicado de imprensa, o coautor do estudo Lars Vilhelmsen, do Museu de História Natural da Dinamarca, disse que, ao analisar o primeiro espécime, já notou a expansão na ponta do abdômen, mas pensou que era uma bolha de ar do âmbar. “Mas então eu olhei para mais alguns espécimes e depois voltei para o primeiro. Na verdade, isso fazia parte do animal”, explicou o especialista em vespas.

Por que as vespas só capturavam presas, mas não matavam?

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As vespas-cuco têm um exoesqueleto verde, para protegê-la dos hospedeiros. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Para Vilhelmsen, o mais provável é que a bizarra estrutura de aprisionamento não se destinava a matar. Em vez disso, a vespa introduzia seus ovos no corpo da presa capturada antes de soltá-la, transformando-a em um hospedeiro involuntário. As larvas nasciam dentro ou sobre o corpo do hospedeiro e, eventualmente, o devoravam por completo.

Um comportamento parecido, mas não idêntico, pode ser observado em algumas vespas parasitoides atuais. Elas são chamadas de vespas-cuco porque, a exemplo do pássaro que põe seus ovos nos ninhos de outras aves, também colocam seus ovos nos ninhos de outras vespas ou insetos hospedeiros. Quando as larvas de vespas-cuco eclodem, elas devoram os ovos ou larvas do hospedeiro e ainda se alimentam das provisões dele.

Fósseis preservados em âmbar são considerados descobertas importantíssimas e empolgantes para a paleontologia nos últimos tempos. No entanto, os paleontólogos têm se deparado com um dilema ético na ciência: há preocupações sobre se o comércio desse âmbar pode estar financiando ou legitimando o regime militar que tomou o poder em Mianmar por meio de um golpe antidemocrático. 

Qual a importância da descoberta da vespa esquisita do Cretáceo?

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Fotografias e reconstruções de micro-TC da S. charybdis. (Fonte: Qiong Wu et al., BMC Biology, 2025/Divulgação)

Em entrevista à CNN, o especialista em fósseis de âmbar, Phil Barden, do Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, afirmou que a S. charybdis faz parte de uma lista de insetos daquela época que “tiveram adaptações que estão fora dos limites das criaturas que estão vivas hoje”. Barden, que não participou do estudo, considera a hipótese sobre a armadilha abdominal especulativa, embora plausível. 

Ele observou detalhadamente a estrutura abdominal da vespa antiga e reconhece que o apêndice teria supostamente capacidade de movimento, além de cerdas que podem ter sido usadas para caçar e imobilizar hospedeiros. Mas essas estruturas poderiam ter outras funções, diz Barden, como detectar presas no solo ou transportar vespas jovens. 

Vilhelmsen, por sua vez, destaca a localização do órgão de postura das fêmeas de S. charybdis perto da “armadilha” como um ponto-chave para a interpretação dos pesquisadores. “Isso é algo único, algo que eu nunca esperei ver e algo que eu nem poderia imaginar que seria encontrado. É nota 10 em 10”, conclui. 

Se essa vespa bizarra já parece com aquele xenomorfo do filme Alien, espere até conhecer estas cinco descobertas da Era Glacial feitas no permafrost de Yukon. . Acompanhe aqui no TecMundo.

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