2 de abril de 2025

Poderá Jordan Bardella herdar o lugar da condenada…

Num dia, Marine Le Pen estava num lugar confortável, com preferências entre 34% e 37% no primeiro turno da eleição presidencial de 2027. No outro, seu mundo desabou, ao ser condenada a quatro anos de prisão (possivelmente domiciliar com tornozeleira) e tornada inelegível por cinco anos, uma decisão de execução imediata. O mundo político francês tremeu na base e muitos já começaram a fazer os prognósticos. Poderia o jovem Jordan Bardella, o protegido de Marine, ser catapultado a candidato à presidência, na falta de sua protetora?

E teria ela a capacidade de transferir votos?

São questões em aberto. O Agrupamento Nacional, nome sem graça do partido (o original, Frente Nacional, estava contaminado pelas simpatias neofascistas de seu fundador, o pai rejeitado por Marine, Jean-Marie Le Pen), não tem outro candidato sequer remotamente forte. E os concorrentes em potencial, na esfera do centro, são políticos respeitáveis, tendo ambos sido primeiros-ministros: Édouard Phillippe, que tem a vantagem da imagem de estabilidade de confiabilidade (21% das preferências na última pesquisa), e Gabriel Attal (20%), um concorrente jovem – 36 anos – e tão ou mais articulado que Bardella.

Todos, evidentemente, defendem políticas mais duras em relação à imigração, o problema mais premente da França e responsável por levar Marine Le Pen da condição da candidata de nicho a uma possibilidade real de ser eleita presidente, depois de fazer uma faxina para eliminar os atributos de “extrema” como sua linha política de direita sempre foi enquadrada – hoje, seria mais adequado o termo direita populista.

‘PERSEGUIÇÃO POLÍTICA’

Os paralelos com o atual panorama político brasileiro são óbvios, mas devem ser cautelosos. Existem, de fato, dois candidatos populares acossados pela justiça, cujos partidários denunciam uma guerra judicial contra eles. E passou a existir também a discussão sobre quem poderia substituí-los, em razão da inelegibilidade.

Continua após a publicidade

O restante é todo diferente. Marine Le Pen foi condenada, juntamente com as oito integrantes de seu partido, por pagar funcionários a serviço dela e do partido, incluindo um guarda-costas e uma secretária, com verbas destinadas a manter seu gabinete como deputada no Parlamento Europeu. O caso foi tratado como desvio de fundos.

Não houve uso de dinheiro para proveito próprio, no sentido comum de corrupção. O atual primeiro-ministro, François Bayrou, está envolvido num processo parecido, que os franceses chamam de “caso dos assessores parlamentares”.

Episódios desse tipo provocam as mesmas reações, seja na França, seja no Brasil: a oposição comemora como uma grande conquista que acabará de vez com o político malquisto, os partidários denunciam uma perseguição política travestida de processo judicial legítimo. “Vão fazer tudo para nos impedir de chegar ao poder”, resumiu Bardella. Também se nota que são políticos de direita, como François Fillou e Nikolas Sarkozy, os atingidos pelo “maximalista judiciário”, uma nova expressão para definir um rigor que parece desequilibrado para um dos lados do quadro político.

Continua após a publicidade

Se a condenação for definitiva, “o clima político até 2027 será tempestuoso”, disse o jornal Figaro em editorial. Poderá Bardella manter simultaneamente a fidelidade a Marine Le Pen e disputar uma eleição em que precisará firmar seu caminho próprio? Tem estatura para ser candidato presidencial?

SENTIMENTO PERIGOSO

Muitos dos problemas políticos atuais da França decorrem do enfraquecimento acelerado do presidente Emmanuel Macron, que abriu vulnerabilidades em todo o espectro político do centro. Outros são sistêmicos, como a insustentabilidade do estado de bem-estar social pelos parâmetros atuais e a existência de dez milhões de estrangeiros, com uma parte avessa ou hostil aos princípios fundamentais da república francesa e uma minoria simpatizante do islamismo fundamentalista.

Foi a questão da imigração que gradativamente legitimou Marine Le Pen, embora a realidade seja que não existe força política capaz de lidar com um problema dessas dimensões. Muitos franceses sabem ou intuem isso – e uma parte foi se aproximando das posições da candidata agora inelegível, inclusive na classe operária que a esquerda tradicionalmente considerou seu feudo.

Continua após a publicidade

Frustração é um sentimento perigoso e nada garante que Bardella, descendente de italianos que tem 29 anos e faz sucesso com a ala feminina jovem, irá aumentar essa reação ou se beneficiar dela, embora tenha a vantagem de uma rejeição menor. O delfim, como dizem os franceses, remetendo à palavra usada para designar o herdeiro do trono na época da monarquia, tem ao mesmo tempo uma grande chance e enormes obstáculos pela frente.

Ele é “um recurso formidável do movimento, espero que não tenhamos que usá-lo antes do necessário”, definiu Marine ao propagar que vai brigar muito.

Source link

About The Author