Algo estranho está acontecendo na dieta americana: as pessoas simplesmente não estão comprando biscoitos e pretzels como costumavam.
Os snacks — não muito tempo atrás, a categoria de crescimento mais rápido em alimentos embalados — estão perdendo força, mesmo quando os consumidores aumentam o consumo de shakes e barras de proteína.
Se a tendência se mantiver, isso pode sinalizar uma mudança fundamental na forma como os americanos comem e um sério desafio para os gigantes do setor de alimentos que passaram a última década acumulando aquisições de petiscos tentadores.
Ainda é muito cedo para dizer se isso é apenas uma desaceleração temporária ou o início de algo maior, talvez relacionado ao aumento de medicamentos para perda de peso e dietas mais saudáveis. Mas as lacunas estão aparecendo.
Por exemplo, a Frito-Lay da PepsiCo, a força dominante dos salgadinhos dos EUA, conhecida pelos Doritos e pelas batatas Lay’s. No ano passado, pela primeira vez desde a crise financeira, o império de snacks da América do Norte registrou um declínio anual nas vendas, com a receita caindo de US$ 24,91 bilhões para US$ 24,76 bilhões em 2024.
Não é apenas a Frito-Lay — a desaceleração está sendo sentida em todo o setor. A Campbell’s cortou sua orientação anual no início deste mês, citando fraqueza em seu negócio de snacks, que inclui marcas populares como biscoitos Pepperidge Farm e bolachas Goldfish.
A desaprovação do consumidor depois que as empresas promoveram aumentos acentuados de preços nos anos pós-pandemia certamente influi. Mas em Wall Street, a desaceleração está levantando questões sobre o grau em que forças maiores estão em ação. General Mills, Kraft Heinz, PepsiCo e Campbell’s viram suas ações caírem em média 14% no ano passado, mesmo com o S&P 500 subindo 8,5%.
O declínio dos snacks está chegando em um momento difícil para as empresas de alimentos, muitas das quais gastaram bilhões no aumento de opções.
No ano passado, a Mars fechou um acordo de quase US$ 30 bilhões para adquirir a Kellanova, fabricante de Pringles e Cheez-Its, que foi separada do negócio de cereais da Kellogg’s. Em 2023, a J.M. Smucker pagou US$ 4,6 bilhões pela Hostess Brands, apostando alto em Twinkies e HoHos.
Os negócios foram feitos em um momento em que parecia que os americanos simplesmente não conseguiam parar de consumir esses produtos. O negócio de lanches cresceu nos anos seguintes à pandemia, quando as pessoas presas em casa durante meses de lockdown recorreram a Cheez-Its e Oreos em busca de conforto.
Mesmo depois que as restrições diminuíram, as vendas de snacks permaneceram fortes, impulsionadas por aumentos de preços que os consumidores — cheios de dinheiro de estímulo do governo — absorveram sem muita resistência.
Grandes fabricantes de alimentos culparam a desaceleração à pressão econômica que pesa sobre os consumidores americanos, que estão cada vez mais optando por outras marcas e por embalagens menores. Empresas como Nestlé e Campbell’s mencionaram a redução do poder de compra.
Questionado se os medicamentos para perda de peso conhecidos como GLP-1s poderiam ter algo a ver com a queda da demanda, o presidente-executivo da General Mills, Jeffrey Harmening, apontou que até mesmo as vendas de petiscos para cães estão em baixa. E, brincou ele durante uma teleconferência de resultados, não há GLP-1 para cães.
No entanto, uma análise da indústria de snacks, de US$ 180 bilhões, também revela uma mudança em direção a opções mais saudáveis. A demanda por lanches ricos em proteínas — como iogurte grego, shakes nutricionais e outros — aumentou no ano passado, mesmo com a queda nas vendas de snacks doces e salgados, observa Max Gumport, analista de alimentos embalados do BNP Paribas Exane.
Os produtos frescos também estão superando os produtos embalados, uma tendência que pode acelerar quando os consumidores sentem o aperto financeiro.
Mas, como aponta a analista da Bernstein, Alexia Howard, a situação “também pode ser impulsionada por tendências subjacentes de saúde e bem-estar em toda a população dos EUA, bem como entre os usuários de drogas GLP-1 mais especificamente”.
O declínio dos snacks coincide com outra reversão de tendência leve, mas significativa, nos EUA. Em 2023, pela primeira vez em mais de uma década, a taxa de obesidade do país caiu de 44,1% para 43,96%, de acordo com um estudo publicado no periódico JAMA Health Forum.
A mudança é pequena, mas pode marcar um momento de mudança. Cerca de 5% a 10% dos adultos americanos já estão tomando GLP-1 como Wegovy e Mounjaro, seja para o diabetes ou para a obesidade, e espera-se que a tendência acelere à medida que os medicamentos se tornam mais acessíveis.


“Os snacks estão no topo da lista de coisas que os consumidores não querem comer”, observa Marion Nestle, professora emérita de nutrição alimentar da Universidade de Nova York.
Em última análise, o declínio pode refletir várias tendências ao mesmo tempo. Os consumidores de baixa renda podem estar cortando principalmente por razões financeiras, enquanto as famílias mais ricas podem estar mudando gradualmente seus hábitos alimentares por motivos relacionados à saúde.
Outra preocupação para as empresas de alimentos é que o chamado movimento Make America Healthy Again, ou MAHA (Fazer os EUA saudáveis de novo), também possa começar a influenciar os hábitos alimentares dos consumidores de baixa renda.
Embora o apelo do secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., para a remoção de corantes artificiais do suprimento de alimentos provavelmente não represente um desafio financeiro significativo, muitas empresas já eliminaram esses aditivos em seus produtos europeus e poderiam facilmente fazer o mesmo aqui.
A verdadeira ameaça está no potencial da MAHA de alterar as percepções gerais dos americanos sobre os alimentos.
Uma pesquisa da TD Cowen de fevereiro revelou que 38% dos entrevistados ficaram mais preocupados com os impactos dos alimentos processados na saúde nos últimos meses. “Se a retórica continuar a ganhar força”, escreveu Robert Moskow, analista da TD Cowen, “o valor das marcas nos portfólios das grandes empresas de alimentos cairá”.
À medida que os hábitos de petiscar evoluem, o mesmo acontece com as empresas de alimentos. A década de 1980 nos trouxe a Diet Coke; a década de 1990 viu o surgimento de produtos sem gordura; os anos 2000 trouxeram dietas com baixo teor de carboidratos como a do Dr. Atkins; e a década de 2010 popularizou alimentos à base de plantas, como o leite de aveia.
A década de 2020 parece ser aquela em que muitos americanos mudam para alimentos menos processados e snacks ricos em proteínas, e as empresas já estão se movendo nessa direção também.
A Conagra Brands, fabricante do Slim Jim e de outras marcas de barrinhas de carne seca, destacou recentemente os salgadinhos de carne como sua categoria de crescimento mais rápido. No início deste ano, a PepsiCo concluiu uma aquisição de US$ 1,2 bilhão da Siete Foods, conhecida por seus chips de tortilha sem grãos, e seguiu com planos de adquirir a propriedade total de suas joint ventures Sabra e Obela, que produzem molhos e patês como homus.
Para as empresas de alimentos que dependem mais de petiscos cheios de carboidratos e açúcar, existem amplos alvos potenciais de aquisição no setor de proteínas, observa Gumport, do BNP, mencionando empresas como Chobani (de iogurte) ou Barebells e GoMacro (de barras de proteína) como exemplos.
Os americanos nunca vão parar de beliscar, mas quando suas preferências de snacks mudam, o setor alimentício tem de mudar com eles.
Escreva para David Wainer em [email protected]
Traduzido do inglês por InvestNews
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