Lembram-se dos tempos em que existiam campanhas para boicotar produtos de empresas com as quais você não concordava? Pois é, foi apenas há três meses. Hoje, a campanha contra a Tesla, de Elon Musk, tornou-se violenta, com carros incendiados, vandalizados, pichados e seus donos identificados por hackers, como se fossem criminosos.
Do outro lado, a retórica também não ajuda: Donald Trump disse que os “terroristas” – uma expressão não tecnicamente errada, mas que exige responsabilidade – deveriam pegar vinte anos de cadeia e “talvez cumprir pena nas prisões de El Salvador, que recentemente ficaram famosas pelas condições tão encantadoras”.
É uma briga como o mundo nunca viu antes. O homem mais rico do planeta foi prestar serviços ao presidente dos Estados Unidos – numa versão também jamais vista – e demonstrou enorme satisfação em cortar gastos e funcionários. Muitas das atividades envolvidas eram discutíveis, com desperdícios flagrantes e politizados, mas a reação tem sido brutal.
Também o mercado reage desvalorizando as ações da Tesla, já punidas com 40% de recuo. Uma das mais inovadoras e importantes produtoras de carros elétricos pode simplesmente afundar. Ao boicote, soma-se o salto dado pelos veículos chineses da BYD, com uma tecnologia de recarga que dá 400 quilômetros de autonomia.
Alguns donos dos veículos futuristas da Tesla, que pareciam traduzir uma combinação única de estilo arrojado e sintonia com os tempos de transição energética, uma causa dos progressistas em geral, passaram a usar um adesivo dizendo: “Eu comprei esse carro antes de Musk ficar louco”.
ASTRONAUTAS POLITIZADOS
Trump fez um evento de apelo comercial ao vivo na Casa Branca para tentar ajudar o novo amigo. O secretário do Comércio, Howard Lutnick, foi além e, durante uma entrevista ao vivo, sugeriu aos espectadores que comprassem ações da Tesla.
“É inacreditável que as ações desse cara estejam tão baratas. Nunca voltarão a ser assim”, incentivou Lutnick, que é do mercado financeiro, mas não pode usar o cargo para promover produtos, por motivos óbvios.
Atenção: tudo isso aconteceu em dias anteriores e posteriores ao resgate dos astronautas que só puderam voltar à Terra quando a SpaceX entrou em ação. O que deveria ser uma extraordinária aventura espacial, do tipo que rende filme, se tornou um assunto imediatamente politizado. Nem os astronautas escapam e os múltiplos inimigos de Musk enterraram rapidamente o tema, passando a falar apenas nos gigantescos contratos da SpaceX com o governo.
A própria dualidade do papel de Musk é discutida: ele não é integrante permanente do governo, mas o fato de continuar à frente das atividades empresariais também entra numa zona ética cinzenta.
RECUPERAÇÃO DO VALOR DO X
Irá Musk perder a Tesla, seu “bebê”, fabricante de dois milhões de carros e até recentemente principal fonte de sua fortuna de 320 bilhões de dólares, a maior da história do planeta?
Quem, hoje, se anima a comprar um carro que pode ser vandalizado por extremistas?
Terá sido um grande erro ter se associado a Trump? Ou ele vai tirar algum truque da fenomenal inteligência que o levou ao topo do mundo, embora obviamente com problemas na área do QI emocional?
E isso tudo que nem entramos na questão do X e sua batalha sobre liberdade de expressão, com vários desdobramentos, inclusive no Brasil.
Na semana passada, o X voltou a valer os 44 bilhões de dólares que Musk pagou pela plataforma, mostrando como é complexa a dança de seus ativos ativos.
‘ISSO É MALUQUICE’
Nunca existiu um bilionário como Elon Musk. Da mesma forma que nem o próprio Trump do primeiro mandato pode ser comparado ao que existe hoje.
Os coquetéis molotov explodindo nas concessionárias da Tesla são apenas um aspecto da extrema radicalização que está envolvendo os Estados Unidos. Trump disse que estão sendo investigados “não apenas aqueles que pegam o fósforo e acendem o fogo”, mas também “as pessoas que os financiam”.
“Não consigo passar na frente de uma televisão sem ver um Tesla pegando fogo”, disse Musk, numa reunião da Tesla na semana passada. “Eu entendo se você não quer comprar o nosso produto, mas não precisa tocar fogo nele. Isso é maluquice. Parem de ser malucos”.
Se todas as partes apostarem na maluquice, o resultado final não pode ser bom.
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