25 de março de 2025

A goma de mascar é feita do material de pneus e causa poluição plástica

Um dos produtos de consumo diário mais diversificados no mundo, a goma de mascar superou o seu papel de simples produto alimentício para se tornar um importante cultural com variadas interpretações e associações, desde alívio do estresse a evocação de momentos nostálgicos da infância e adolescência.

Se, por um lado, o nosso popular chiclete é um produto de consumo recreativo popular e barato, ele apresenta uma face sombria que o leva a ser proibido em alguns lugares do mundo, como Singapura. É que, após a mastigação, o descarte incorreto da goma causa poluição urbana, permanência no meio ambiente por vários anos, impacto na fauna e alto custos para ser removido das vias públicas.

Agora, em um artigo recente para a plataforma The Conversation, o pesquisador David Jones, professor da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, acrescenta uma consequência gravíssima do descarte inconsequente da goma de mascar cuspida: poluição plástica. Para o especialista, a maioria das gomas de mascar modernas contém “uma variedade de borrachas sintéticas à base de óleo”, parecidas com as que os pneus usam.

Do que o chiclete é realmente feito?

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Chiclete é feito de estireno-butadieno, polímero sintético usado na fabricação de pneus. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Pesquisando plásticos por 15 anos, Jones diz que a maioria das pessoas em suas palestras geralmente se chocam ao saber que têm mastigado pedacinhos de plástico por longos anos. Isso acontece porque quase ninguém sabe que a “base de goma” do chiclete é, na verdade, uma mistura de polímeros sintéticos. Os fabricantes, por sua vez, não dão detalhes dos ingredientes e falam vagamente em base de goma “sintética”.

Até mesmo marcas consagradas, como a norte-americana Wrigley, fabricante da centenária Doublemint, se apresentam como defensoras da saúde bucal, com seus chicletes sem açúcar, mas omitem que sua base contém o estireno-butadieno (usado em pneus), o polietileno (de sacolas plásticas) e o acetato de polivinila (cola de madeira). A empresa de Chicago fala apenas em “textura suave” e “sabor duradouro” na descrição dos seus produtos.

A “discrição” se justifica: a indústria do chiclete é hoje um negócio bilionário, com estimativa de uma movimentação de US$ 48,68 bilhões (o equivalente a R$ 279 bilhões) em 2025. Em um mercado monopolizado (75%) por três empresas, são produzidas anualmente 2,4 milhões de toneladas de goma de mascar, sendo 730 mil toneladas feitas com base sintética, que se transforma em microplásticos, que irão poluir o ambiente por dezenas de anos.

Medidas paliativas para mascarar o problema ambiental

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Não basta lavar as calçadas, pois a goma de mascar permanece no meio ambiente. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O descarte de chicletes feitos com base sintética cria dois problemas: um imediato, que é a sua remoção de calçadas e bancos públicos, avaliada em £ 7 milhões anuais (R$ 51,6 milhões) no Reino Unido. Esse gasto elevado, causado pela falta de educação dos mascadores, acaba se tornando ineficaz, pois o plástico permanece no ambiente.

Segundo o autor, existem atualmente algumas soluções paliativas, como a instalação de coletores para reciclar chicletes pela Gumdrop Ltd., ou a campanha “Mantenha a Grã-Bretanha Limpa”, que recebeu £ 10 milhões de fabricantes (inclusive a Wrigley) para limpar chicletes velhos das ruas e calçadas

O grande equívoco desses programas é atacar os sintomas do problema e não a sua causa. Nessas iniciativas, a goma de mascar descartada é tratada como “lixo” e não como “poluição plástica”. Ao propagar que o problema não é mascar chiclete, mas descartá-lo incorretamente, a responsabilidade vai para o consumidor, e as indústrias se esquivam de sua responsabilidade corporativa de fabricar um produto sabidamente poluente.

Soluções para a poluição por goma de mascar

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A poluição por chicletes com plásticos sintéticos deve passar pelo redesenho do produto (Fonte: Getty Images/reprodução)

Assim como ocorre com os demais plásticos descartáveis, a solução para o problema dos chicletes passa por diversos tipos de abordagem, como educação, regulamentação e inovação. Os consumidores precisam saber que estão mascando plástico, e esses ingredientes devem estar claramente descritos nos rótulos. Além disso, um imposto sobre chicletes sintéticos poderia não só financiar limpezas, como pressionar fabricantes a explorar soluções sustentáveis

Mas, a resolução do problema da poluição por plásticos sintéticos em gomas de mascar não deve se restringir a penalidades por descarte inadequado. A responsabilidade deve ser estendida aos fabricantes, com vistas a redesenhar completamente seu produto. Embora opções biodegradáveis já estejam disponíveis, na forma de biopolímeros à base de plantas, as grandes corporações resistem às mudanças devido ao baixo custo dos plásticos sintéticos.

Independentemente do que venha a ser feito pelos governos, cada um de nós deve ter em mente que, assim como nos escandalizamos quando alguém joga uma garrafa PET na rua, cuspir um chiclete no chão tem o mesmo impacto. Dessa forma, tanto poluidores incivis como fabricantes de produtos poluentes precisam assumir sua parcela de responsabilidade. Pelo bem do planeta.

O que você achou dessa matéria sobre o potencial poluidor do chiclete como microplástico? Comente, compartilhe com seus amigos nas redes sociais, e apoie iniciativas que pressionar a indústria a utilizar materiais biodegradáveis na goma de mascar. Conheça também a perigosa conexão entre os microplásticos e as superbactérias.

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