O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos de 2025, publicado pela Unesco em nome da UN-Water nesta sexta-feira, 21, alerta que o ritmo “sem precedentes” do derretimento das geleiras e a redução de nevascas nas regiões mais frias do mundo estão ameaçando o acesso a água e alimentos para ao menos 2 bilhões de pessoas, além de colocar em risco diversos ecossistemas do planeta.
O estudo aponta que o derretimento das geleiras provocado pelas mudanças climáticas afeta diretamente os recursos hídricos das regiões de montanha, que “cobrem 33 milhões de quilômetros quadrados da superfície da Terra e são vitais para a manutenção da vida”.
“Independentemente de onde vivemos, de alguma forma, todos nós dependemos das montanhas e das geleiras. Contudo, essas torres de água naturais essenciais atualmente enfrentam perigo iminente”, disse Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco. “Este relatório demonstra a necessidade urgente de ação e que as soluções mais eficazes exigem uma abordagem multilateral”.
Fontes de água em risco
De acordo com o relatório, mais de 2 bilhões de pessoas dependem diretamente da água proveniente das montanhas para abastecimento, saneamento e meios de subsistência. Setores estratégicos, como pastoreio, silvicultura, turismo e produção de energia também estão ameaçados. Nos países andinos, por exemplo, 85% da energia hidrelétrica é gerada em áreas montanhosas.
O estudo revela que o recuo das geleiras já está impactando a agricultura globalmente, com riscos para dois terços das terras que dependem dessas fontes de irrigação. Além disso, cerca de 50% da população rural que vive em montanhas em países em desenvolvimento sofre com insegurança alimentar, sendo as mais afetadas mulheres e crianças.
Embora o derretimento das geleiras seja a face mais visível da crise, o relatório alerta que mudanças nos padrões de nevascas também afetam o abastecimento de água. Em muitas regiões, os fluxos de água doce dependem mais do derretimento sazonal da camada de neve do que das geleiras.
No Japão, por exemplo, a icônica camada de neve do Monte Fuji só começou a aparecer um mês depois do normal no ano passado. A situação é agravada pelas temperaturas mais altas, que estão causando maiores níveis de precipitação em forma de chuva, que escorre das montanhas mais rápido do que a neve. Além disso, o degelo abrupto aumenta o risco de desastres naturais, como enchentes de lagos glaciais, colocando milhões de vidas em risco.
Mobilização global
Apesar da gravidade da situação, o relatório aponta que as regiões montanhosas ainda recebem pouca atenção nas políticas globais. Para tentar reverter esse quadro, as Nações Unidas estabeleceram o Dia Mundial das Geleiras, que será celebrado pela primeira vez em 21 de março de 2025, seguido pelo Ano Internacional da Preservação das Geleiras.
Projetos de cooperação já estão em andamento. Na Ásia Central, a Unesco investiu US$ 12 milhões (mais de R$ 68 milhões) para monitoramento de geleiras e prevenção de enchentes no Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão. Na África, o projeto Desbloquear a Torre de Água do Kilimanjaro recebeu US$ 8 milhões (cerca de R$ 45 milhões) para restaurar florestas degradadas e ampliar o acesso à água potável para mais de 2 milhões de pessoas na Tanzânia e no Quênia.
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