17 de março de 2025

Sinal de alerta para Trump: na média das pesquisas…

Anexar o Canadá, prender adversários políticos e impor uma sobretaxa de 200% sobre o vinho francês são arroubos de retórica de Donald Trump que transpõem várias linhas vermelhas. A principal delas, do ponto de vista do presidente com dois meses de mandato: a maioria dos americanos não está gostando.

Na última sexta-feira, esse sentimento se refletiu num marco importante. Pela primeira vez na média das treze pesquisas do site RealClear, a desaprovação a Trump ficou na frente, com 48,5%, contra 47,8% de aprovação (a diferença hoje diminuiu mais ainda e está 48,2% de aprovação contra 48,4%).

Provavelmente o que mais pesa é a frustração com as expectativas de uma melhora no assunto mais sensível de todos, o bolso. Com perfis tão diferentes, os presidentes dos Estados Unidos e do Brasil enfrentam uma situação parecida na insatisfação da população com o custo de vida refletindo-se em seus índices de popularidade.

Até o mesmo produto alimentício, o ovo, virou um símbolo dos aumentos de preços, principalmente no supermercado, com iniciativas propaladas por altos escalões, em geral distantes de assuntos de galinheiro, para controlar a disparada. Com a diferença de que o PIB per capita dos americanos é de 82,8 mil dólares, oito vezes mais do que os nossos magros 10,2 mil.

Dá para comprar um bocado de ovo com mais de 80 mil dólares por ano, mas o padrão de vida está estressado.

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LEIS DA REALIDADE

Uma pesquisa feita para a CNN mostra que 44% aprovam a condução da economia contra 56% que desaprovam. O surto nos mercados na semana passada, apesar das eternas advertências de que o cotidiano das bolsas tem que ser visto com distanciamento, mostrou uma fase cheia de sensibilidades. Economistas de esquerda (também existe isso nos Estados Unidos) martelam os riscos de recessão, ignorando os acontecimentos nem tão distantes ainda: muita gente boa garantiu que haveria recessão sob o comando de Joe Biden, mas a realidade não confirmou isso.

Biden, ou quem quer que tivesse tomando as decisões por ele (nem assinar com a própria mão os projetos de lei o ex-presidente conseguia, como foi divulgado recentemente), teve uma conduta muito mais previsível, dentro dos princípios de inundar o país de dinheiro – estando aí uma das raízes da inflação cujos efeitos continuam a reverberar. Trump é mais criativo, com a chuva de sobretaxas sobre produtos estrangeiros, o que também não ajuda a aliviar os preços. As leis da realidade são as mesmas em qualquer país.

Segundo uma pesquisa da Universidade de Quinnipiac, Trump também está em desvantagem em outras iniciativas importantes. Política externa: 42% de aprovação contra 53% de desaprovação; guerra Rússia-Ucrânia, 38% a 55%; comércio com o Canadá, 36% a 58%.

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Como nas eleições, o eleitorado republicano (com 89% de aprovação) e o democrata (96% de desaprovação) continuam nas posições polarizadas de sempre. O que está mudando é a faixa de independentes. E a mudança não favorece Donald Trump..

GASTADOR OU CORTADOR

A equipe econômica do governo é forte, com nomes como Scott Bessent, o secretário do Tesouro, prometendo cortar o déficit, colocar os gastos “sob controle” e “reprivatizar” a economia.

Bessent, um milionário do mercado, diz que entrou para a campanha de Trump porque estava alarmado com o nível de gastos do governo Biden para turbinar o crescimento econômico. “Agora estamos fazendo uma correção de curso, desalavancando o governo e realavancando o setor privado”, afirmou.

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Será interessante ver como isso funciona, quase que como uma aula magna de economia ao vivo, envolvendo um gigante de 28 trilhões de dólares. O liberalismo, no sentido econômico, funcionará? E, talvez mais importante, conseguirá baixar o preço do ovo (na verdade, já está caindo)?

A aula que está sendo dada no Brasil é quase o total oposto. Comparar as duas filosofias trará lições preciosas. Governo gastador ou governo cortador, quem se sairá melhor? E como a alta imprevisibilidade de Trump influenciará em tudo isso?

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