Eis aqui um fato: estatisticamente, as mulheres tendem a viver mais que os homens. E não é só isso, elas também são mais resistentes quanto ao declínio cognitivo à medida em que vão envelhecendo. Uma parte da explicação sobre isso pode estar ligada aos cuidados durante a vida, mas outra parece estar na própria genética.
Agora, pesquisadores dizem que podem ter encontrado a razão para que o cérebro das mulheres se mostre mais resiliente. Esta resposta pode estar no segundo cromossomo X presente nas células femininas.
A “força” do segundo X na longevidade das mulheres

Um novo estudo, feito por cientistas da Simons Collaboration on Plasticity and the Aging Brain e publicado no periódico Science Advances, relatou um experimento com camundongos fêmeas que constatou que o envelhecimento ativa a expressão dos cromossomos X “silenciosos” – o segundo cromossomo presente nas células apenas de pessoas do sexo feminino que é recebido da mãe.
Segundo os pesquisadores, foi observado que esse cromossomo X silencioso ou inativado tem um forte papel nas células do hipocampo, região do cérebro crucial para o aprendizado e a memória. O estudo constatou que, quando os camundongos eram submetidos a uma terapia genética para aumentar a expressão de um desses genes, sua cognição melhorava. Isso era medido pela forma com que esses animais percorriam um labirinto.
A equipe ainda declarou que falta verificar se esse resultado se repete também em humanos. Em caso positivo, isso pode significar que os cérebros das mulheres estão sendo protegidos por seu segundo cromossomo X à medida que envelhecem. Essa informação, aliás, pode ser usada para criar terapias que beneficiem a todos – homens e mulheres.
Rachel Buckley, neurologista que estuda diferenças sexuais na doença de Alzheimer no Massachusetts General Hospital em Charlestown, não estava envolvida no estudo, mas declarou: “o cromossomo X é poderoso. Esse tipo de trabalho está ajudando os pesquisadores a entender onde está a resiliência feminina e como aproveitá-la”, afirmou em entrevista para a revista Nature.
Já a neurologista Dena Dubal, da Universidade da Califórnia, que foi líder da pesquisa, informou que “no envelhecimento típico, as mulheres têm um cérebro que parece mais jovem, com menos déficits cognitivos em comparação aos homens”.
Ela se mostrou empolgada pelo que foi descoberto. “Esses resultados mostram que o X silencioso nas mulheres, na verdade, desperta mais tarde na vida, provavelmente ajudando a retardar o declínio cognitivo”, acrescentou.
A importância do “fator X” para o cérebro

É dado já comprovado que as mulheres, em todas as sociedades que registram informações sobre mortalidade, vivem mais que os homens. Mas essa pesquisa pode trazer mais pistas concretas sobre por que isso ocorre. “Descontando doenças como Alzheimer e apenas observando o processo típico de envelhecimento, as mulheres também preservam melhor a cognição à medida que envelhecem”, afirma Dubal.
O mais curioso é que isso costuma ocorrer mesmo em situações extremas como a fome extrema, epidemias e outros estresses ambientais. A longevidade feminina talvez possa ser explicada pelos genes e outros fatores biológicos determinados pelo X “silencioso”.
As mulheres, diferente dos homens, recebem dois cromossomos X em cada uma de suas células: um materno e um paterno. Ocorre que apenas um desses cromossomos X é expresso em cada célula: o outro essencialmente se esgota em um fenômeno que já foi chamado de inativação do X.
Pesquisadores explicam que, em certos casos, as mulheres podem expressar mais de um X materno ou mais de um X paterno, o que é chamado de distorção X. O gene da maioria das mulheres se apresenta como um “mosaico” em que há uma mistura de cromossomos X maternos e paternos.
“Nós nos perguntamos se essa mistura — esse mosaicismo — poderia oferecer algum tipo de proteção contra o envelhecimento ou doenças do envelhecimento em mulheres. Porque quando há diversidade em um sistema, ele geralmente é capaz de compensar quando as coisas dão errado porque ele pode responder de maneiras diferentes. Mas para realmente chegar a essa questão, tivemos que primeiro entender como cada cromossomo X, seja da mãe ou do pai, impacta como uma célula se comporta”, conclui Dubal.
Para estudar isso no cérebro dos ratos, a equipe liderada por Dubal criou dois tipos de animais de laboratório que iriam produzir descendentes com um cromossomo X de cada. Os cromossomos foram projetados de forma que um seria sempre o X ativo e o outro sempre seria inativado. Em seguida, os pesquisadores rastrearam a atividade de ambos os cromossomos X em nove tipos principais de células, o que incluía os neurônios encontrados no hipocampo de camundongos jovens e velhos.
Verificou-se então que ter apenas um X materno fazia com que seus cérebros envelhecessem biologicamente mais rápido. “Também estava causando comprometimento cognitivo: em tarefas de labirinto, os camundongos perderam sua capacidade de aprender e lembrar em comparação com as fêmeas, conforme envelheciam”, explicou Dubal.
Os resultados surpreenderam a equipe de pesquisadores. Eles afirmam que o estudo pode indicar uma das razões pelas quais os cérebros dos homens não envelhecem tão bem quanto os das mulheres: a falta de um segundo X. A parte boa, para os homens, é que talvez estejamos prestes a trilhar o caminho para novas terapias celulares que poderão funcionar como uma nova “fonte da juventude cerebral” para eles.
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