O influxo “injusto” de aço chinês barato no Brasil é um problema maior do que as tarifas dos Estados Unidos, segundo a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), uma das principais fabricantes de aço do país.
“O Brasil ainda é o quintal do mundo para a China enviar materiais”, disse o executivo da CSN, Luiz Fernando Martinez, em uma teleconferência de resultados nesta quinta-feira (13). As restrições comerciais dos EUA ao aço do Brasil são de preocupação secundária em comparação com o desequilíbrio das importações vindas de Pequim, acrescentou ele.
Os comentários da fabricante vêm um dia após a entrada em vigor das tarifas de 25% do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre as importações de aço e alumínio para os EUA. Embora o Brasil tenha sido o segundo maior fornecedor de aço estrangeiro para os EUA no ano passado, de acordo com dados comerciais dos EUA, a CSN considera as importações vindas da China mais ameaçadoras ao setor.

Novas proteções
No ano passado, o Brasil intensificou as proteções para suas siderúrgicas contra uma enxurrada de importações liderada pela China, impondo um sistema de cotas de importação a 11 tipos de produtos de liga. A medida foi “inócua” para preservar a competitividade do setor, disse Martinez, criticando a decisão do governo brasileiro de aprofundar investigações em um caso antidumping sobre produtos laminados a frio da China, apesar de já ter identificado danos à indústria doméstica.
Martinez disse que o Brasil deveria agora usar as mesmas táticas de outros países, aumentando o imposto sobre o aço chinês.
“O que cabe ao Brasil agora é ctrl+c, ctrl+v do que o mundo está fazendo”, afirmou ele, acrescentando que outros países asiáticos, como Vietnã e Tailândia, aumentaram os impostos sobre as importações de aço chinês.
Negociação com Trump
A CSN vê espaço para negociação entre Brasil e a administração Trump, incluindo por meio de cotas, e disse que tais medidas poderiam trazer oportunidades comerciais, como a venda de chapas metálicas.
Funcionários do Brasil e de outros países latino-americanos produtores de aço já estão em contato com autoridades dos EUA, segundo Ezequiel Tavernelli, presidente da Alacero, a associação siderúrgica latino-americana.
Embora Tavernelli tenha dito não ter conhecimento direto do que está sendo discutido, um bom resultado seria a repetição das isenções concedidas aos países latino-americanos durante o primeiro mandato de Trump.
Ele concordou com Martinez que a principal queixa é com o dumping pela China e outras nações asiáticas, instando os EUA a ver a América Latina como aliada devido ao seu aço limpo e de alta qualidade.
“Nós somos a melhor alternativa para os EUA substituírem o fornecimento asiático”, disse Tavernelli. “Estamos sofrendo o mesmo problema — uma enxurrada de aço chinês a preços subsidiados.”
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