Assunto central na reinvindicação territorial da China, a ilha de Taiwan assistiu com preocupação à eleição de Donald Trump à Casa Branca.
Durante seu primeiro mandato, Trump pouco disse sobre a diminuta ilha do Oceano Pacífico.
Mas ao longo da campanha pela reeleição, em 2024, o republicano deixou claro que não faria da proteção à soberania da ilha um tema central de seu governo.
“Eles roubaram nossos chips. E agora querem nossa proteção. A Intel era líder até os taiwaneses aparecerem”, reclamou Trump, em fevereiro.
A postura acendeu o sinal de alerta na capital, Taipé, metrópole cosmopolita e ultra conectada onde é crescente o temor de um embate militar com a China.
Na última terça-feira, 3, o governo do presidente Lai Ching-te anunciou uma inédita e bilionária ofensiva para manter Trump próximo à ilha.
Curiosamente, o anúncio veio pouco depois de Trump abandonar a Ucrânia, país invadido pela Rússia em 2022, após discutir em frente às câmeras com o presidente Volodymyr Zelenski.
Um destino que provoca calafrios entre os taiwaneses.

O que os taiwaneses pretendem fazer para manter Trump do seu lado? Injetar (muito) dinheiro na economia americana.
A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC), maior fabricante de semicondutores do mundo, anunciou um investimento de 100 bilhões de dólares em novas instalações nos Estados Unidos.
O CEO da empresa, C.C. Wei, fez o anúncio ao lado do ex-presidente Donald Trump no último dia 3.
O plano inclui a construção de três fábricas de chips, duas unidades avançadas de embalagem e um centro de pesquisa e desenvolvimento no complexo da TSMC no Arizona. Com isso, o investimento total da empresa na região chegará a 165 bilhões de dólares.
“Os chips de IA mais poderosos do mundo serão feitos aqui na América”, declarou Trump em uma entrevista coletiva televisionada. “É uma questão de segurança econômica, mas também de segurança nacional”, acrescentou.
Trump disse que o acordo fará com que a TSMC escape de tarifas de 25% que deverão ser aplicadas em todas as importações industriais. Já Wei disse que o acordo significava que a TSMC estava “produzindo o chip mais avançado em solo americano”.
A expansão da TSMC nos EUA está alinhada com a meta do governo Trump de garantir que semicondutores de inteligência artificial sejam projetados e produzidos internamente.
Trump também reiterou que, em 2 de abril, anunciará tarifas de 25% ou mais sobre semicondutores e outras importações.
A primeira fábrica da TSMC no Arizona iniciou operações no quarto trimestre de 2024 e está em negociações para produzir os chips Nvidia (NVDA) Blackwell.
Outras duas fábricas em construção devem começar a produção em 2028 e até o final da década, segundo a empresa.
+ O que explica o crescimento milagroso de Taiwan, ilha que é pilar da economia global
+ As valiosas lições que o Grande Salto Verde de Taiwan traz para o mundo
Anúncio tem grande repercussão em Taiwan
Especialistas taiwaneses e a imprensa local questionaram se a estratégia será eficaz.
Segundo os críticos, transferir tecnologias que são dominadas por empresas taiwanesas para os Estados Unidos pode colocar a segurança e o domínio estratégico sobre o setor em risco.
O governo de Taiwan garantiu que sua tecnologia de semicondutores mais avançada não será transferida para os Estados Unidos sob o novo acordo.
A declaração veio em resposta a preocupações de que o pacto poderia comprometer a segurança nacional da ilha.
O governo taiwanês afirmou que o acordo ainda passará por avaliações regulatórias, levando em consideração tanto os interesses do país quanto os dos investidores.

Na TV taiwanesa, a porta-voz do gabinete presidencial, Karen Kuo, disse que o governo vai garantir que a TSMC “manterá seus processos de fabricação mais avançados em Taiwan”.
Já o ministro de assuntos econômicos de Taiwan, Kuo Jyh-Huei, disse que a avaliação “levará em consideração os interesses dos investidores e do país”.
A TSMC produz quase todos os semicondutores mais avançados do mundo, e a indústria é frequentemente chamada de “escudo de silício” de Taiwan, incentivando os EUA a apoiar Taiwan contra a invasão chinesa para manter a tecnologia fora do controle de Pequim.
O repórter viajou a convite do Conselho de Desenvolvimento do Comércio Exterior de Taiwan (TAITRA).
More Stories
Putin diz apoiar ideia de cessar-fogo na Ucrânia…
Papa Francisco celebra doze anos de pontificado na…
Democratas se opõem a projeto republicano no Senad…