14 de março de 2025

China condena tarifas como ‘ato de duas caras’ e d…

O Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse nesta sexta-feira, 7, que seu país continuará a tomar medidas retaliatórias contra “tarifas arbitrárias” impostas pelos Estados Unidos e acusou o governo de Donald Trump de incentivar a “lei da selva” durante uma entrevista coletiva, à margem da sessão parlamentar anual do país.

Wang afirmou que os americanos estão “enfrentando o bem com o mal” ao relatar que os esforços chineses para ajudar Washington a conter a epidemia de opioides, com foco no combate ao tráfico de fentanil, foram recebidos com tarifas punitivas. Segundo ele, os laços entre as duas maiores potências do mundo estão sendo prejudicados.

“Nenhum país deve fantasiar que pode reprimir a China e manter um bom relacionamento com a China ao mesmo tempo”, declarou. “Tais atos de duas caras não são bons para a estabilidade das relações bilaterais ou para construir confiança mútua.”

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Em relação à política da Casa Branca de colocar seus interesses acima da cooperação internacional, Wang disse que tal abordagem, se adotada por todos os países do mundo, resultaria na “lei da selva”.

“Países pequenos e fracos serão queimados primeiro, e a ordem e as regras internacionais sofrerão um choque severo”, afirmou ele. “Os principais países devem assumir suas obrigações internacionais, e não buscar lucrar e intimidar os fracos”.

Nova onda de tarifas

Nesta semana, o governo Trump anunciou novas tarifas contra produtos chineses por acusações de contrabando de fentanil, que a nação asiática chamou de injustificadas. Pequim defende que fez muito para conter as exportações de produtos químicos industriais usados ​​para fabricar a droga nos últimos anos, e que a crise dos opioides nos Estados Unidos é um problema doméstico.

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Documento do Gabinete de Informação do Conselho de Estado da China, publicado em março deste ano e visto por VEJA, destaca as ações tomadas pelo Estado para controlar a substância. Entre elas estão 1) a introdução do conceito de “substâncias relacionadas” (todas aquelas que têm estrutura química semelhante à do fentanil) para ampliar a concepção do que é a droga; 2) o controle total de químicos usados para fabricar fentanil a partir de 2019, tornando-se o primeiro país a fazê-lo, com sistemas de monitoramento e alerta precoce e supervisão da produção, vendas, compra, transporte e exportação; 3) novas diretrizes na Justiça em casos criminais envolvendo o narcótico; e 4) a criação de um mecanismo multiagências para inspeção e apreensão e de um sistema nacional de gerenciamento de produtos químicos.

O mesmo documento detalha, ainda, o que o governo chinês diz ter feito para colaborar com os Estados Unidos no combate ao tráfico do opioide, como colaboração entre agências de aplicação da lei de ambos os países para desmantelar grandes casos de contrabando e fabricação de drogas, a criação do Grupo de Trabalho China-EUA de Combate a Narcóticos em janeiro do ano passado (com mais de 100 trocas de informações desde então), e reuniões e comunicação regulares entre o Ministério da Segurança Pública e a DEA, a agência antidrogas americana.

Essas foram as mais recentes de uma série de tarifas retaliatórias que Washington e Pequim impuseram mutuamente desde o retorno de Trump à Casa Branca, em janeiro. Os Estados Unidos aumentaram os impostos fixos sobre todas as importações chinesas para 20%, enquanto Pequim respondeu com taxas adicionais de 15% sobre produtos americanos, incluindo frango, carne suína, soja e carne bovina. Além disso, expandiu a restrição dos negócios entre empresas chinesas e americanas.

Enquanto isso, Trump anunciou na quinta-feira 6 um adiamento de um mês para tarifas contra os vizinhos Canadá e México.

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Geopolítica

A entrevista coletiva anual do ministro das Relações Exteriores é a única ocasião em que Wang fala com a mídia chinesa e estrangeira sobre uma miríade de tópicos. O evento desta sexta-feira foi dominado por perguntas sobre os laços China-EUA, juntamente com outros tópicos, como conflitos regionais e colaborações entre nações do Sul Global.

Sobre a guerra na Ucrânia, Wang reiterou a posição da China de apoiar a resolução de conflitos por meio de negociações. Também ponderou que, em retrospectiva, o conflito “poderia ter sido evitado”. E enfatizou que as relações  com Rússia continuam fortes como nunca, apesar da recente rodada de negociações entre Washington e Moscou sobre o fim da guerra na Ucrânia.

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“Todas as partes devem aprender algo com a crise”, afirmou. “Entre muitas outras coisas, a segurança deve ser mútua e igual, e nenhum país deve construir sua segurança com base na insegurança de outro.”

Sobre Taiwan, a ilha autogovernada e democrática que a China reivindica como parte de seu território, Wang deixou bem claro: “Nunca foi um país e nunca será um país no futuro.” Aqueles que apoiam a independência de Taiwan estão “apenas brincando com fogo e vão se queimar”, acrescentou.

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Questionado sobre o plano de Trump de assumir o controle da Faixa de Gaza e deslocar palestinos para países vizinhos, o ministro afirmou que o enclave pertence à população local e qualquer mudança forçada no status do território desencadearia novas turbulências. Wang declarou apoio ao plano de paz apresentado pelo Egito e outros países árabes durante a semana e reiterou que o melhor caminho para a crise é criar um Estado palestino.

“O conflito israelense-palestino ocorre repetidamente simplesmente porque a solução de dois Estados só foi parcialmente alcançada”, disse. “O estado de Israel é uma realidade há muito tempo, mas o estado da Palestina ainda está muito além do nosso alcance.”

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