14 de março de 2025

O que explica o crescimento milagroso de Taiwan, i…

Com uma área de equivalente ao estado de Alagoas, Taiwan é uma ilha pequena, com poucos recursos naturais e uma população de apenas 23 milhões, mas desempenha um papel de liderança na indústria internacional de alta tecnologia.

Classificada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) como a 21ª maior economia do mundo, essa nação insular localizada a 180 quilômetros da China se desenvolveu com uma velocidade impressionante, deixando para trás um passado agrícola para se tornar potência digital.

Para entender como isso foi possível é preciso mergulhar na complexa história recente de Taiwan.

O pontapé inicial do milagre taiwanês se deu no início do século XX, um período período controverso, quando o país se tornou colônia do Japão (1895-1945).

Os colonizadores aceleraram as exportações de chá, arroz e cana-de-açúcar, aumentando o dinamismo da economia. Em seguida, implantaram a produção de fertilizantes e têxteis, aumentando ainda mais a pauta de exportações.

Em 1899, os japoneses estabeleceram outro pilar fundamental –  a criação de um Banco Central forte. Ao emitir moeda, a instituição estabeleceu uma unidade padrão de câmbio, facilitando as transações financeiras.

Indústria automobilística em Taipé nos anos 1970
Indústria automobilística em Taipé nos anos 1970: depois da Segunda Guerra, país se voltou para as exportações (Reprodução/Reprodução)
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O desenvolvimento observado no período japonês, porém, acontecia de forma desigual. Mesmo que o país assistisse à crescente entrada de divisas, boa parte dos lucros acabava remetida para o Japão. Assim, a renda média das famílias permanecia baixa.

Mas com a derrota do Japão na Segunda Guerra, em 1945, os colonizadores acabaram expulsos da ilha.

Nesse momento, outro governo, dessa vez da República da China, assumiu a administração taiwanesa.

O governo central da se mudou do continente para Taiwan em 1949, fugindo da revolução comunista. E nos anos seguintes, se concentrou na reconstrução da infraestrutura danificada durante guerra, voltando-se em seguindo para o progresso econômico.

Devido ao seu amplo envolvimento na indústria e no comércio, o estado continuou a definir a direção da economia.

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No entanto, havia grandes diferenças entre a gestão econômica da República da China e a administração japonesa em Taiwan.

Antes da Segunda Guerra Mundial, o Japão controlava a economia taiwanesa por meio da propriedade direta e, indiretamente, através de empresas estatais.

Sob o novo governo, porém, houve um incentivo crescente à participação da iniciativa privada.

O primeiro plano de desenvolvimento econômico buscou transformar a economia agrícola de Taiwan em uma baseada na manufatura — uma estratégia visionária que impulsionou a modernização da ilha.

Essa transição foi bem-sucedida, em grande parte, porque os planejadores econômicos decidiram focar na indústria têxtil e de vestuário, um setor historicamente crucial no desenvolvimento de países como Reino Unido, Estados Unidos e Japão.

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Entre os anos 1960 e 1970, Taiwan realizou um novo salto estratégico com o nascimento da indústria eletrônica.

Naquele período, o setor era dominado por pequenas empresas que copiavam ou licenciavam tecnologias de corporações multinacionais.

Devido à percepção de que os produtos eletrônicos fabricados localmente eram de qualidade inferior, as empresas taiwanesas direcionaram seus esforços para mercados emergentes no Sudeste Asiático, Oriente Médio e América Latina.

As receitas geradas por essas exportações permitiram que as empresas atingissem investissem em equipamentos de produção mais modernos.

As melhorias na qualidade e no know-how de fabricação no setor de eletrônicos pavimentaram o caminho para a ascensão da indústria de semicondutores, que se tornaria o próximo grande motor do crescimento econômico.

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As origens dessa indústria remontam a 1964, quando um laboratório de semicondutores foi fundado na National Chiao Tung University, em Hsinchu, no norte de Taiwan.

Esse laboratório desempenhou um papel fundamental na formação de engenheiros que mais tarde se tornariam a espinha dorsal da indústria de semicondutores do país.

Nos primeiros anos, o emergente setor de fabricação de semicondutores recebeu pouca ajuda externa, pois as corporações multinacionais hesitavam em investir em instalações de produção em Taiwan.

Um dos principais fatores dessa relutância era o alto investimento exigido para a criação dessas linhas de produção, aliado à incerteza sobre a capacidade de manter padrões consistentes de controle de qualidade.

Nos anos 1980, o estado taiwanês, com a ajuda de especialistas dos Estados Unidos, passou a investir cifras vultosas para acelerar a produção de semicondutores.

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E fundou aquela que viria a ser a mais importante empresa do setor de chips nos dias atuais, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC).

A TSMC fornece componentes para todas as grandes empresas de tecnologia, incluindo Apple, Amazon e Microsoft.

E produz 90% dos chips mais avançados do mundo, incluindo aqueles essenciais para o desenvolvimento de inteligência artificial, que exigem alto nível de sofisticação.

Em outras palavras, praticamente todo celular, a maioria dos computadores e qualquer banco de dados do mundo dependem dos chips que saem das fábricas da TSMC. E que só ela é capaz de fabricar.

Com um quadro de mais de 70 000 funcionários, a TSMC domina o setor com nove plantas industriais em Taiwan. A empresa também erguendo uma nova unidade no Japão, nos Estados Unidos e na Alemanha.

Sede da Samsung, a Coréia do Sul ocupa a segunda posição no ranking global de manufatura de chips.

No entanto, Taiwan mantém a dianteira com larga vantagem, pois seus semicondutores são mais eficientes, menores e mais rápidos do que os fabricados pelos sul-coreanos.

Planta de produção da TSMC em Taiwan
Planta de produção da TSMC em Taiwan (Divulgação/Divulgação)

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