A esperada reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, foi marcada por um tenso bate-boca. O resultado: a coletiva de imprensa marcada para após o encontro foi cancelada, assim como a assinatura de um acordo sobre minerais que permitiria que os EUA explorassem terras-raras espalhadas pelo subsolo ucraniano, uma espécie de compensação – cobrada por Trump – pela ajuda militar dada por Washington a Kiev.
Em publicação nas redes sociais, após o encontro, Trump disse que Zelensky “desrespeitou” os Estados Unidos e que poderá voltar à Casa Branca apenas “quando estiver pronto para a paz”.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) February 28, 2025
“Eu determinei que o presidente Zelensky não está pronto para a paz se a América estiver envolvida, porque ele sente que nosso envolvimento dá a ele uma grande vantagem nas negociações”, escreveu o republicano. “Eu não quero vantagem, eu quero paz. Ele desrespeitou os Estados Unidos da América no querido Salão Oval.”
O presidente da Ucrânia viajou à capital americana nesta sexta-feira para assinar um acordo com o governo Trump que daria a empresas americanas acesso privilegiado às terras-raras no subsolo nacional. O país tem depósitos de 22 dos 34 minerais identificados como “críticos”, de acordo com dados ucranianos, incluindo materiais industriais e de construção, ferroligas, metais preciosos e não ferrosos e alguns elementos de terras-raras. As reservas de grafite no país, um componente-chave em baterias de veículos elétricos e reatores nucleares, representam 20% dos recursos globais.
Mediante o acordo, os Estados Unidos e a Ucrânia estabeleceriam um fundo de investimento de reconstrução para coletar e reinvestir receitas de fontes ucranianas, incluindo minerais, hidrocarbonetos e outros materiais extraíveis. Kiev contribuiria para o fundo com 50% da receita, subtraindo despesas operacionais, até que as contribuições atinjam a soma de 500 bilhões de dólares.
Washington, por sua vez, estabeleceria um compromisso financeiro de longo prazo para o desenvolvimento de uma “Ucrânia estável e economicamente próspera”. Mas a constrangedora discussão entre Trump e Zelensky, que teve palco no Salão Oval, na Casa Branca, arruinou os planos.
+ Por que o governo Trump quer os minerais da Ucrânia?
Clima tenso
Questionado por repórteres sobre sua mensagem aos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que estão preocupados com a política expansionista do presidente russo, Vladimir Putin, e com as concessões do governo americano a Moscou na abertura das negociações sobre o fim da guerra na Ucrânia, o republicano não só minimizou o problema, mas atacou Kiev.
Primeiro, respondeu dizendo que está alinhado tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia, porque caso contrário ele nunca conseguiria um acordo para o fim das hostilidades. Depois, disse que se recusa a “dizer coisas terríveis sobre Putin”, o que tornaria as negociações difíceis.
“Não estou alinhado com ninguém. Estou alinhado com os Estados Unidos da América e o bem do mundo. Eu estou no meio, sou a favor tanto da Rússia quanto da Ucrânia”, afirmou. “Quero resolver isso.”
Mas então, em dado momento, Trump disse a Zelensky, ao seu lado, que o ucraniano tinha “que ser grato” a ele, além de acusá-lo de “arriscar uma Terceira Guerra Mundial”.
Zelensky, por sua vez, resistiu. Ele pediu que o presidente americano não faça “nenhum acordo com um assassino” e trouxe à tona a importância de salvaguardas “cruciais” para garantir a sustentabilidade de qualquer acordo de paz.
A certa altura, Trump impediu Zelensky de responder a uma pergunta da imprensa, interrompendo-o bruscamente mesmo depois do ucraniano dizer: “Por favor, me deixe responder”. Em seguida, o republicano afirmou que a Ucrânia não será capaz de ganhar a guerra, que o país está destruído e que é preciso fazer um acordo de paz.
O vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, também acusou Zelensky de vir a Washington para atacar membros do governo Trump de forma desrespeitosa, dizendo que ele não está em posição de ditar de que forma os americanos devem se sentir.
Anteriormente, o americano havia elogiado o Exército ucraniano (“incrivelmente corajoso”) por resistir à invasão russa por três anos. No entanto, afirmou que o principal ponto do acordo sobre os minerais ucranianos, que deve ser assinado após a coletiva de imprensa em uma bilateral a portas fechadas, é que “vocês não vão voltar a lutar”.
O presidente dos Estados Unidos também declarou que, embora a Ucrânia tenha que fazer concessões no contexto de um pacto para o fim da guerra, é apenas porque “não se pode fazer acordos sem concessões”.
No fim da reunião transformada em bate-boca, Trump ameaçou Zelensky: “Ou você faz um acordo ou estamos fora”.
“O problema é que eu o capacitei para ser um cara durão, e não acho que você seria um cara durão sem os Estados Unidos. E seu povo é muito corajoso. Mas ou você faz um acordo ou estamos fora”, afirmou. “Você não tem as cartas. Assim que assinarmos o acordo, você estará em uma posição muito melhor. Mas não está agindo de forma agradecida, e isso não é uma coisa boa”, concluiu, antes de encerrar o encontro.
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