Em meio a troca de farpas, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aterrissará em Washington, capital dos Estados Unidos, para uma aguardada – e tensa – reunião com o presidente americano, Donald Trump, nesta sexta-feira, 28. A visita à Casa Branca ocorre num contexto de aproximação do republicano com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao mesmo tempo em que ele subiu o tom nas críticas às decisões sobre a guerra tomadas por Zelensky, a quem definiu como “ditador” na semana passada.
Direto do Salão Oval, o presidente dos Estados Unidos afirmou na terça-feira, 25, que havia sido informado que o líder ucraniano estava “vindo na sexta-feira”, acrescentando: “Certamente está tudo bem para mim, se ele quiser (vir)“. Espera-se que os líderes assinem o acordo de minerais entre os dois países, cujos termos foram aceitos por Kiev ainda na terça-feira. Trump disse que trata-se de um “grande negócio” e que “pode ser um acordo de trilhões de dólares, pode ser qualquer coisa”, mas destacou que o pacto permitiria o acesso a terras-raras ucranianas.
A Ucrânia tem depósitos de 22 dos 34 minerais identificados pela União Europeia como “críticos”, de acordo com dados ucranianos, incluindo materiais industriais e de construção, ferroligas, metais preciosos e não ferrosos e alguns elementos de terras-raras. As reservas de grafite no país, um componente-chave em baterias de veículos elétricos e reatores nucleares, representam 20% dos recursos globais.
Com o acordo, os Estados Unidos e a Ucrânia estabeleceriam um Fundo de Investimento de Reconstrução para coletar e reinvestir receitas de fontes ucranianas, incluindo minerais, hidrocarbonetos e outros materiais extraíveis. Kiev contribuiria para o fundo com 50% da receita, subtraindo despesas operacionais, até que as contribuições atinjam a soma de US$ 500 bilhões. Washington, por sua vez, estabeleceria um compromisso financeiro de longo prazo para o desenvolvimento de uma “Ucrânia estável e economicamente próspera”.
+ Ucrânia aceita termos de acordo para dar aos EUA acesso a minerais estratégicos
Futuro da Ucrânia
Espera-se que os líderes tratem sobre as negociações para o fim da guerra na Ucrânia, que completou três anos na segunda-feira, 24. Zelensky, apoiado por países europeus, reclama de estar sendo excluído das tratativas, acusando Trump de deixá-lo em segundo plano para privilegiar o lado russo. Em resposta às críticas do homólogo ucraniano, o líder dos EUA alegou que Zelensky “não é importante” para as discussões de paz, por supostamente tornar “muito difícil fechar acordos”.
Durante uma reunião com governadores dos Estados Unidos, na semana passada, Trump também afirmou que teve “conversas muito boas” com Putin, ao passo que não teve conversas “tão boas” com a Ucrânia. Ele argumentou que os representantes ucranianos “não têm as cartas, mas jogam duro, e você fica cansado disso”. “Não vamos deixar isso continuar”, concluiu.
Os Estados Unidos atuam como o principal mediador da guerra na Ucrânia, mas o retorno do republicano à Casa Branca mudou as regras do jogo. Seu antecessor, Joe Biden, era aliado declarado de Kiev, ao passo que Trump tem aproximado os laços com Moscou. Entre os dois lados, Trump escolheu conversar primeiro com o presidente russo sobre as negociações para o fim do confronto.
A situação ganhou contornos ainda mais tensos após a Ucrânia ser excluída da mesa de negociações numa reunião em Riade, capital da Arábia Saudita. Em meio às críticas do presidente ucraniano sobre a ausência de um convite, Trump culpou Kiev pela guerra, iniciada após tropas russas invadirem o país vizinho. Além disso, acusou Zelensky de ser um “ditador sem eleições” (seu mandato expirou em maio passado, mas não houve novo pleito porque o país está em estado de guerra).
Ainda na semana passada, Trump culpou o ucraniano pelo confronto, disse que ele precisava “agir rápido ou não terá mais um país” e que a Ucrânia “pode ser russa um dia”.
O presidente ucraniano, por sua vez, disse estar estar disposto a deixar o cargo em troca do fim da guerra entre seu país e a Rússia ou da adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental. Trata-se de uma progressiva deterioração das antes estáveis relações entre Washington e Kiev.
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