A Agência Nacional do Petróleo (ANP) está intensificando a fiscalização sobre algumas operações de offshore da Petrobras e de outras petroleiras, como a estatal norueguesa Equinor, complicando projetos de exploração e produção em um momento crucial para os esforços do país em impulsionar a produção de petróleo.
Os atrasos na perfuração vão dificultar as tentativas do Brasil de reverter o declínio da produção de registrado no ano passado. Antes de 2024, o país era uma das principais fontes de crescimento de oferta fora da OPEP nos mercados globais de petróleo. Se a produção continuar estagnada em 2025, isso pode sinalizar à aliança OPEP+ que há espaço para aumentar as exportações sem o risco de um excesso de oferta que derrube os preços.
Embora algumas interrupções na perfuração tenham resultado de graves problemas de segurança — em 14 de fevereiro, uma falha em uma bomba causou uma explosão a bordo de um navio-sonda da Valaris Ltd. operando para a Equinor — outras foram suspensas por questões aparentemente menores, que normalmente não causariam interrupções, segundo executivos que pediram anonimato ao discutir informações sensíveis.
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Pelo menos outros três navios-sonda foram paralisados nos últimos meses, de acordo com algumas dessas fontes. As paralisações estão retardando tanto a exploração de novos campos de petróleo quanto a perfuração de poços auxiliares em descobertas mais antigas. Dois navios-sonda da Petrobras estavam temporariamente suspensos até 20 de fevereiro, o que levou à criação de um grupo de trabalho para lidar melhor com as preocupações regulatórias, informou a petroleira estatal em resposta a pedidos de comentário.
A ANP informou, em resposta a questionamentos, que três sondas foram totalmente ou parcialmente interrompidas nos últimos dois meses, acrescentando que só intervém em situações de risco grave e iminente. As intervenções continuarão até que as operadoras confirmem que os problemas foram resolvidos, segundo a reguladora.
O Brasil produziu mais petróleo do que a maioria dos membros da OPEP no ano passado, com uma média de 3,4 milhões de barris por dia — o suficiente para representar cerca de 3% da oferta global.
Em 2024, a indústria petrolífera brasileira enfrentou paralisações não planejadas e atrasos na obtenção de licenças. A Agência Internacional de Energia, a Rystad Energy AS e a Wood Mackenzie Ltd. previram um aumento na produção do maior produtor de petróleo da América Latina no ano passado, mas foram frustradas.
O aumento das interrupções na perfuração começou em dezembro e coincidiu com a saída do então diretor-geral da ANP, segundo executivos que pediram anonimato ao discutir informações não públicas. As suspensões causaram apreensão no setor de petróleo no Rio de Janeiro, à medida que exploradores e prestadores de serviços enfrentam um ambiente operacional potencialmente mais restritivo.
Um dos navios-sonda que foi paralisado é o NS Carolina, que faz parte da frota de quatro embarcações da Ventura Offshore Holding Ltd., segundo algumas fontes. A Ventura confirmou em um comunicado na terça-feira que o navio-sonda recebeu uma ordem de interdição em janeiro, solicitando melhorias em certos procedimentos de emergência, e afirmou esperar que a interdição seja suspensa em breve.
No caso do NS Carolina, a ANP informou que houve falhas na execução e implementação de um estudo de dispersão de gás, comprometendo a capacidade do operador da sonda de detectar vazamentos.
As ações da Ventura, negociadas na Bolsa de Oslo, caíram até 9,5% na terça-feira, chegando a 22,40 coroas norueguesas, antes de recuperarem parte das perdas.
Vale lembrar que o Brasil é conhecido por ter reguladores independentes com padrões ambientais e de segurança mais rígidos do que outras regiões, incluindo o Golfo do México, nos Estados Unidos.
Campo da Equinor
A ANP suspendeu as operações do navio-sonda Valaris DS-17 no campo de Bacalhau, operado pela Equinor, até que a empresa demonstre capacidade de operar com segurança, segundo um relatório de incidente datado de 17 de fevereiro e revisado pela Bloomberg. Durante as operações de perfuração, uma tampa de 175 quilos (386 libras) se desprendeu de uma bomba.
Em comunicado, a Equinor afirmou que o “incidente” não causou ferimentos nem vazamentos e que não terá impacto significativo nas operações. A empresa acrescentou que esclarecerá as razões da falha para poder retomar as atividades. A Equinor planeja iniciar a produção no campo de Bacalhau este ano e aumentá-la gradualmente para até 220.000 barris por dia na primeira fase do projeto.
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