O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou nesta quarta-feira 19 seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, de ser um “ditador” por não ter realizado eleições em 2024. Seu mandato expirou em maio passado, e não houve novo pleito porque o país está em estado de sítio. A declaração ocorre em meio a uma rusga entre os dois líderes, que começou depois de Washington abrir negociações com Moscou, mas sem Kiev, sobre o fim da guerra na Ucrânia.
Além disso, na postagem em sua rede social, a Truth, o chefe da Casa Branca declarou que é melhor Zelensky “agir rápido ou não terá mais um país”. Na terça-feira 18, após conversas entre o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o chanceler russo, Sergey Lavrov, sediadas na Arábia Saudita, Trump afirmou que um possível acordo para encerrar os combates estaria “muito perto”.
“Zelensky admite que metade do dinheiro que enviamos a ele está ‘desaparecido’. Ele se recusa a realizar eleições, está muito baixo nas pesquisas ucranianas e a única coisa em que ele era bom era fazer (Joe) Biden ‘de gato e sapato’”, declarou sobre seu antecessor.
“Um ditador sem eleições, Zelensky precisa agir rápido ou não terá mais um país. Enquanto isso, estamos negociando com sucesso o fim da guerra com a Rússia, algo que todos admitem que apenas ‘Trump’ e o governo Trump podem fazer. Biden nunca tentou, a Europa falhou em trazer a paz e Zelensky provavelmente quer manter o ‘trem da alegria’ funcionando”, completou, em aparente referência ao financiamento militar doado a Kiev pelos Estados Unidos e pela Europa.
Trump completou que “ama” a Ucrânia, mas Zelensky, a quem chamou de “um comediante modestamente bem-sucedido” (ele era ator antes de ser eleito presidente), “fez um trabalho terrível”. “Seu país está destruído e milhões morreram desnecessariamente”, afirmou.
O presidente americano também disse, em tom de ameaça, que a guerra na Ucrânia “é muito mais importante para a Europa do que para nós”, porque o Atlântico separa o conflito dos Estados Unidos.
Contenda Trump versus Zelensky
Mais cedo nesta quarta, Zelensky acusou os Estados Unidos de tirarem a Rússia do isolamento global em que caiu após invadir a Ucrânia. Ele já havia protestado por ter sido deixado de fora das conversas, ao que Trump respondeu culpando-o por dar continuidade ao conflito ao falhar em firmar um acordo com Vladimir Putin. O presidente ucraniano revidou.
“Infelizmente, o presidente Trump, com todo o respeito por ele como líder de uma nação que respeitamos muito, está vivendo nessa bolha de desinformação“, declarou Zelensky, ao denunciar que a campanha de fake news da Rússia parece ter se infiltrado no governo americano.
O ucraniano enfatizou que as últimas pesquisas de opinião mostram que ele tem a confiança de 58% dos ucranianos, rebatendo a sugestão feita por Trump de que seu índice de aprovação estaria em 4%. O chefe da Casa Branca, na terça-feira, havia aumentado a pressão sobre Zelensky para realizar eleições – ecoando uma das principais demandas de Moscou.
“Temos uma situação em que não tivemos eleições na Ucrânia, onde temos essencialmente lei marcial na Ucrânia, onde o líder na Ucrânia — odeio dizer isso, mas ele está com 4% de aprovação — e onde um país foi explodido em pedacinhos. A maioria das cidades está caída. Os prédios desabaram. Parece um enorme local de demolição”, afirmou a repórteres em seu resort Mar-a-Lago, na Flórida.
Concessões à Rússia
Os líderes europeus estão cada vez mais temerosos de que Trump esteja dando concessões demais à Rússia em sua busca pelo acordo com a Ucrânia, que ele prometeu selar antes mesmo de assumir o cargo. Mas o republicano insiste em que seu único objetivo é a “paz”. para acabar com o maior conflito bélico na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Depois de um telefonema de noventa minutos entre os líderes americano e russo na semana passada, Pete Hegseth, secretário da Defesa dos Estados Unidos, proclamou que seria “irrealista” restaurar a integridade territorial ucraniana no âmbito de um armistício e descartou a entrada do país na Otan, jogando a responsabilidade de dar garantias de segurança a Kiev para a Europa. Essencialmente, deu o pontapé inicial ao processo de paz nos termos de Putin.
Zelensky, nesta quarta, rejeitou fazer amplas concessões à Rússia, dizendo que qualquer ideia desse tipo é rejeitada pelos ucranianos. Ele sublinhou que Moscou continua sendo “a parte culpada” e que “não dá para maquiar” sua responsabilidade pela guerra.
“Ninguém na Ucrânia confia em Putin. Precisamos de garantias claras de segurança”, disse ele, desafiando o enviado de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, que está em visita a Kiev, a ir falar com a população.
“Deixe-o andar por Kiev e outras cidades. Pelo menos 20%, 30% da capital está desaparecida, pois foi destruída”, afirmou sobre Kellogg. “Deixe-o perguntar sobre Trump, o que as pessoas pensam sobre Trump após suas declarações. É importante que ele veja por si mesmo o que está acontecendo.”
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